Mi-28N/NE: o caçador noturno de víboras

Publicado em: 15/03/2015

Categoria: DESTAQUES

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Por César A. Ferreira
De Brasília

Histórico
A história do MI-28 tem sua gênese ainda na antiga URSS – União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, quando os estudos sobre o campo de batalha futuro apontavam para uma função preponderante dos helicópteros especializados no ataque a forças terrestres, notadamente as blindadas. Sendo a Mil[1] o bureau responsável pelo helicóptero que se tornaria uma lenda, o Mi-24, nada mais natural que fosse este escritório de projetos aquele que se debruçaria sobre o seu sucessor, haja vista também ser este o bureau que ostenta o nome do projetista Mikhail Mil, autor de uma longa cadeia de projetos de sucesso no mundo das asas rotativas.

Os designers propuseram desenhos ousados e conservadores, viu-se, portanto, de helicópteros com propulsores de cauda e dois rotores principais, ao mero retrofit do Mi-24, todavia, o desenvolvimento concorrente do bureau Kamov faria a Mil acordar. Tendo em mãos um vencedor na forma do Mi-24 e conhecendo deste os defeitos e virtudes, os projetistas da Mil abandonaram qualquer devaneio na forma de uma proposta inusual para se deterem em algo tangível e capaz de vencer qualquer concorrência que viesse a enfrentar na URSS, ou seja, um vetor que aliasse robustez, modernidade, proteção e simplicidade. O Mi-24 apresentava como qualidade a robustez, proteção e simplicidade, mas apresentava certa “antiguidade de projeto”, tal como a posição dos motores, por exemplo. A resolução destes problemas de antiguidade por um novo projeto, então, assumiu aos olhos dos projetistas da Mil como o caminho certeiro para o sucesso.

Em 1977 o projeto estava congelado e apresentava um reposicionamento dos motores, que saíram da posição acima da célula, para se situarem ao lado da mesma, e com o clássico compartimento para oito infantes suprimido, tendo apenas um espaço residual para três soldados, ou transporte de pequenas cargas. O primeiro protótipo apareceu em 1981, “Yellow 012”, sendo seguido do segundo nos meses subsequentes, “Yellow 022”. A campanha de ensaios estendeu até o ano de 1986, período no qual enfrentou a concorrência do produto do bureau Kamov, o igualmente impressionante Ka-50.

Dado o fato que o protótipo do Ka-50, monoplance, extremamente ágil e um tanto quanto ousado, parecia aos olhos burocratas algo arriscado, ganhou o Mi-28, agora denominado Mi-28A, a devida autorização para produção, o que se deu no ano corrente de 1987. O primeiro exemplar de pré-série já estava operacional no ano seguinte e esperavam-se as encomendas necessárias para “dar ritmo” à cadeia de produção, quando o Mi-28 foi atropelado pela história. A dissolução da URSS e a profunda depressão econômica que se abateu sobre todas as ex – repúblicas soviéticas, período apelidado com muita correção como “Catastroika”, simplesmente transformou qualquer alocação de recursos para encomenda do modelo em um sonho. Entretanto, se sob a realidade aparente o Mi-28A parecia enterrado, como sonho permanecia vivo, e os agora diretores da Mil resolveram esperar para ver.

Conhecedores das exigências do campo de batalha os engenheiros da Mil resolveram manter os exemplares existentes como bancos para provas de novas propostas, modificando-os e agregando sempre que possível uma leva de novos sensores. Com isto o Mi-28A que detinha apenas a capacidade para combate diurno ganhou sensores que o transformaram em um lutador noturno, capaz de entrar em combate em qualquer situação climática, equipado com sensores térmicos postados no nariz e de um radar, este disposto acima do rotor, proporcionando um campo de varredura vasto, necessário para um vetor aéreo que deve promover emboscadas contra colunas blindadas e que utiliza o contorno do terreno para dissimular-se.

Mi-28N em voo. Percebe-se na imagem a solução para atenuação da assinatura térmica adotada pelos projetistas da Mil. Foto: internet.

Mi-28N em voo. Percebe-se na imagem a solução para atenuação da assinatura térmica adotada pelos projetistas da Mil.
Foto: internet.

Em 1997 vou o novo protótipo do Mi-28, que ganhou continuamente novos aperfeiçoamentos, tais como extensões nas pontas das pás, equivalentes ao conceito BERP[2], controle eletrônico de injeção de combustível, além de novos itens de autoproteção. Em 2003 a Mil foi premiada com seleção do Mi-28, agora portador do designativo N, de noturno, junto com o seu concorrente, o Ka-52… Três unidades foram encomendadas em 2005, seguidas de outras 16 no ano seguinte, configurando um lote para avaliação operacional e formação de doutrina, que foram seguidos de uma encomenda de 67 unidades. A Força Aérea da Rússia declarou o status operacional pleno da aeronave em 2013.
As versões do Mi-28 são as que seguem: Mi-28A (protótipos iniciais, sem capacidade para combate noturno); Mi-28N (versão operacional na Força Aérea da Rússia, dotada de capacidade de combate noturno e em qualquer tempo); Mi-28D (versão desprovida de radar embarcado); Mi-28UB (versão com duplo comando, para formação de pilotos); M-28NE (versão de exportação do Mi-28N).

Características
O Night Hunter, ou seja, o Mi-28N/Mi-28NE, é um helicóptero dotado da configuração clássica desta classe de vetores, ou seja, disposto com dois postos, em tandem, artilheiro na nascele dianteira e o piloto na nascele posterior, estas dispostas em degrau, estando o posto do piloto elevado, com os sensores da aeronave situados à frente da célula, com exceção do radar, colocado no topo do rotor principal. O conjunto motriz se faz presente na sua forma tradicional, ou seja, rotor principal acima dos motores e acompanhado de um rotor de cauda.
O rotor possui cubo semi-rígido, opção dos projetistas da Mil por conhecerem bem as características deste tipo de rotor. No ocidente deu-se uma discussão sobre a melhor concepção de engenharia para cubo de rotor em helicópteros militares, e esta acabou inconclusa, dado que cada tipo de missão favorece um tipo de rotor. Os engenheiros da Mil discutiram as vantagens dos tipos articulado, rígido e semi-rígido e compreenderam que o último agregava características que procuravam.

O Mi-28N/NE apresenta as inequívocas asas para suporte de armas, sendo estas dotadas de dois pontos de fixação cada, compondo quatro pontos fortes, capazes de receber extensa gama de armamentos. Estes pontos aceitam a carga de 500 kg cada, perfazendo um total de 2000 kg em seu conjunto. A aeronave aceita até 2.400 kg de carga. Além disso, como herança, ou tradição da Mil em termos de helicópteros de ataque, o Mi-28N/NE apresenta um compartimento, diminuto, capaz de receber até três pessoas, que pode ser usado para extração de pilotos abatidos em terreno inimigo. O acesso para este compartimento se dá pelo lado direito.

A aeronave apresenta uma fuselagem comprida, com trem de pouso fixo e roda de bequilha na cauda, tal disposição, convencional em helicópteros de ataque, permitiu uma distância razoável dos sensores localizados no nariz e abaixo deste, do solo. As colunas do trem de pouso principal situam-se bem à frente das asas, na linha abaixo do cockpit do piloto, ou seja, distante o suficiente dos pontos de fixação das armas para facilitar o trabalho de municiamento da aeronave.

A aeronave é pentapá. As pás são compostas por uma estrutura em forma de favos de mel, estas, preenchidas por 17 bolsas de ar, que permitem à aeronave manter-se no ar mesmo que uma das pás venha a sofrer avarias, no caso, no limite de até três. As lâminas são produzidas em aço, apoiadas em tubos de titânio, revestidas por fibra de vidro e dotadas com uma proteção no bordo de ataque de uma tala de titânio, tala esta, que conta com proteção contra a formação de gelo. As pontas das pás, por sua vez, são chanfradas, estando em acordo com o principio BERP, adotado para aliviar a compressibilidade sobre as mesmas, demandadas pela dinâmica exibida pelas 10.000 rotações por minuto, advindas da força motriz instalada.

É interessante verificar que o rotor de cauda apresenta como característica um conjunto com lâminas separadas em 120° pela configuração quadripá, disposta em “X”, com defasagem de 36°. Tal configuração, percebe-se, foi herdada pelo Mi-35 e permite uma menor assinatura acústica, bem como maior vida útil da célula devido a menor vibração por ela proporcionada.

Propulsores
O propulsor escolhido para equipar o MI-28N/NE é o Klimov VK-2500, que também equipam os Mi-35/AH-2 Sabre da FAB. Estes motores exibem cada um 2.200 shp, em regime normal, podendo atingir em emergência 2.700 shp. Alimentados por injeção eletrônica, apresentam também uma APU orgânica (por motor). Portanto, os propulsores exibem total independência, aumentando a possibilidade de sobrevivência da aeronave aos danos de combate, isto é ampliado pela disposição destes nos lados da célula, ou seja, à margem da fuselagem, que os separa, suprimindo ao mínimo a possibilidade de dano em ambos os propulsores por ação singular do inimigo. Ademais, a operação em ambientes remotos com pouca, ou nenhuma espécie de suporte se torna possível, dado que as unidades externas de força para acionamento dos motores e manutenção dos sistemas embarcados são suplantadas em sua necessidade pela presença da unidade auxiliar de força.

Sensores
O sensor principal do Mi-28N é o radar, este situado no topo do rotor, montagem que visa ampliar o campo de busca do sensor enquanto o vetor mascara a sua presença, entre árvores e contornos do terreno. O radar selecionado foi o N-025 Almaz – 280, multibanda, operando nas faixas Ka, I e J. Este radar apresenta alcance efetivo para detecção de alvos aéreos de 20 km, sendo empregadas para esta função, modo ar-ar, as emissões nas frequências das bandas I e J. Já o limite de detecção do N-025 para alvos terrestres é de 10 km, realizando Lock-On, ou seja, localizando e acompanhando alvos neste limite, sendo a banda Ka a utilizada para tanto. No tocante a detecção e classificação de fenômenos climáticos o limite é de 100 km.

Visão frontal do Mi-28N/NE. Observa-se acima o nariz do sistema de guiamento por rádio dos mísseis ar-terra, seguido pela torreta flir e da torreta do sistema de varredura por imagens. Abaixo o canhão de tiro rápido de 30mm. Foto: internet.

Visão frontal do Mi-28N/NE. Observa-se acima o nariz do sistema de guiamento por rádio dos mísseis ar-terra, seguido pela torreta flir e da torreta do sistema de varredura por imagens. Abaixo o canhão de tiro rápido de 30mm.
Foto: internet.

O radar N-025 Almaz 280 opera em conformidade com outros sensores embarcados, estes de natureza eletro-óptica. São estes a torreta Flir GOES – 521 e a torreta Zenith “TOR”, ambos compondo o sistema eletro-óptico TOR Vision. A torreta GOES/521 se encontra logo à frente, abaixo do nariz proeminente onde se encontra o elemento rádio – direcionador dos mísseis anticarro, estando logo abaixo, em uma torreta em formato cilíndrico, o sistema de câmeras de vídeo Zenith. A torreta flir GOES-521, giroestabilizada, proporciona à tripulação da aeronave imagens na região infravermelha do espectro, bem como de vídeo em qualquer situação, seja ela noturna ou com baixa visibilidade, em qualquer circunstância meteorológica (LLLTV – Low Light Level TV). Exibe a capacidade de movimento de + 13º/-40º vertical e horizontal de +110º/-110º. As câmeras Zenith, abrigadas na torreta cilíndrica, também giroestabilizada, são utilizadas para ambiente diurno e possibilitam a varredura de campo, dado o fato de uma delas ser dotada de lente grande angular com zoom 3x. A segunda câmera com zoom 13x (óptico) permite a aproximação e identificação específica de detalhes do campo. Esta torreta apresenta a mesma deriva (movimentos) daquela do canhão Shipunov 2A12, NPPU-28, com 220º de azimuth e +13/-40 em elevação. O designador laser da aeronave se encontra embarcado/acoplado neste sistema.

O último sensor embarcado a ser abordado é o radar altímetro SBKV-2V-2, este de especial importância, para em uso conjugado com demais sensores permitir a navegação com uso do contorno do terreno, NOE – Nape Of The Earth.

Aviônicos de missão
O helicóptero de ataque Mi-28N é dotado de rádios categoria VHF/UHF/HF, com salto de frequência, uso de criptografia e datalink, orientação por sinais de GPS e GLONASS, que são apresentados em mostradores de cristal liquido, onde os demais dados de voo também o são, incluindo a condições dos motores, conta correte de combustível e seleção de armas. Os cockpits, tanto do piloto quanto do oficial de sistema de armas estão preparados para uso de NVG, como de HMD. Os capacetes com miras acopladas permitem o uso dos sistemas de armas escravizados (aos capacetes) e reduzem em muito a carga de trabalho da tripulação.

Sobrevivência e Proteção
No tocante a proteção o Mi-28N não foge a regra da tradição russa em aeronaves de ataque: apresenta extensa blindagem, exibindo uma banheira em titânio e material cerâmico, que proporciona proteção da tripulação contra projéteis de 12,7 mm e estilhaços das granadas de 20 mm. A blindagem transparente suporta impactos de projeteis de infantaria de 7,62 mm. A proteção blindada é estendida para os motores, eixo de transmissão, sistemas hidráulicos, tanque de combustível e o cone do rotor de cauda. Os tanques de combustível recebem o conceito antigo, mas eficiente, da aplicação de uma espuma autosselante, neste caso, de poliuretano, além do agora clássico revestimento de borracha.

Teste balístico com a cabine do Mi-28N, realizado com munições de variados calibres, de 12,7 até 57 mm. Foto: internet.

Teste balístico com a cabine do Mi-28N, realizado com munições de variados calibres, de 12,7 até 57 mm.
Foto: internet.

Os motores Klimov VK – 2500 possuem suas saídas de gases quentes voltadas para baixo e para longe da aeronave, sendo estes misturados com ar frio, admitido através de um supressor que lhe é acoplado. Desta maneira obtém-se uma redução de assinatura térmica da ordem de duas vezes e meia daquela emitida pelo antecessor, Mi-24. A disposição dos motores também difere daquela vista no MI-24, por serem estes colocados bem separados, um em cada lado da célula, configurando uma disposição que por si minimiza a possibilidade de danos por ação do inimigo. Dado o fato de que os motores Klimov VK-2500 possuem reserva excedente de potência, o Mi-28N pode operar com apenas um exemplar do par em funcionamento, devido ao fato de o acionamento se dar de forma independente, bem como da alimentação de combustível.

O Mi-28N possui assentos e uma estrutura concebida para absorver impactos com o solo, contanto que estes se deem em uma desaceleração de até 12 m/s. Outra estrutura concebida para absorver danos em missão são as pás dos rotores, estas compostas por uma estrutura análoga aos favos de mel, preenchidos por 17 bolsas de ar, permitindo que cada pá suporte até três avarias e mantenha a aeronave voando sem apresentar uma vibração excessiva.

O Mi-28N exibe também uma suíte de contramedidas eletrônicas, pautada pelo Vitbesk DASS, cujos componentes são RWR (alerta contra iluminação por ondas eletromagnéticas – RADAR), alerta de iluminação de lasers MAK 1R, dispensadores de Chaff e Flare UV-26 e um jammer (interferidor eletrônico) PLATAN.

Armamento
A aeronave possui como arma orgânica um canhão de 30mm montado em um plataforma móvel, nomeada como NPPU-28, estabilizada (dois eixos: vertical/horizontal), abaixo do nariz. A plataforma apresenta configuração de azimute de 220º e elevação de +13º/-40º. A arma é um canhão Shipunov 2A42, que exibe cadências selecionáveis de 200~300 TPM contra alvos em terra, e de até 550~800 TPM contra alvos aéreos. O canhão em questão utiliza cartuchos 30 x 165 mm, e possui munições com cabeças APFSDS-T, APDS, APBC-T, HE, HEI, HE-T. Com munições APFSDS-T é assegurada a penetração de uma chapa de 45 milímetros a 2.000 metros de distância, sendo que a 1.000 metros de distância é assegurada a penetração de uma chapa de 55 milímetros.
A relação munição/penetração é a que segue ( entre parênteses esta a designação):
APFSDS-T(M929): 45mm a 2.000 metros; 55mm a 1.000 metros.
APDS (3UBR8): 25mm a 1500 metros com até 60º de inclinação.
HEI (3UOF8): para uso contra infantaria, carga explosiva incendiária com atraso de 0,15 milissegundos do impacto.
HE-T (3UOR6): carga explosiva com fragmentação. Atraso de 0,15 milissegundos em relação ao impacto.
APBC-T (3UBR6): carga sólida com ponta deformável. Penetra 20 mm de chapa com até 60º de inclinação a 700 metros, 14mm de chapa sólida de aço a 1500 metros.

O canhão Shipunov 2A42 instalado no Mi-28 detém um cofre de munição com 250 projéteis, que podem ser de tipos variáveis. A arma está escravizada aos sistemas de armas da aeronave o que proporciona extrema acuidade de fogo. O acionamento é elétrico e a arma possui como característica física o comprimento de 3.027 milímetros e um peso de 115 kg. O seu projeto e concepção advém do conceituado bureau KBP Tula.

A aeronave exibe outros quatro pontos duros (fixação de armas) montados nas asas de suporte ao lado da fuselagem, com diedro ligeiramente negativo. Os pilones possuem limite de carga de 500 kg (2000 kg divididos pelos quatro pontos duros) e capazes de receber tanques de combustível, pods eletrônicos, pods de foguetes, pods com armas de canos (canhões/metralhadoras), bombas de queda livre (com, ou sem kits de guiamento), mísseis anti-carro e anti-aéreos. Nas suas pontas encontram-se dois pods, cilíndricos, que compõem o sistema de auto-proteção da aeronave e que comporta o RWR e o chaff/flare do helicóptero.

Os pontos de fixação podem receber casulos com canhões e metralhadoras. As opções de casulos armados com armas de cano são compostas pelos casulos UPK 23/250, dotado do conhecido canhão geminado Gsh-23 (23mm), com 250 cartuchos, bem como do casulo SPPU-22 com 260 cartuchos e que permite ao conjunto geminado Gsh-23 uma mobilidade de aproximadamente 45º para baixo. Além destes, agrega-se o casulo de armas SPPU-6, equipado com uma arma gatling (seis canos) de 23mm (Gsh-23/6) com 500 cartuchos para pronto uso.

Dentre as armas anticarro estão integrados os mísseis KBM 9M120 e 9M120-E ATAKA. O míssil 9M120 que equipa os Mi-35 da FAB (AH-2 Sabre), exibe 6 km de alcance, enquanto o seu congênere 9M120-E detém a marca de 8 km. Outra arma anticarro capaz de ser utilizada é o clássico KBM 9M114 Shturm (5 km de alcance). É possível integrar mísseis guiados por feixe radar/radio ou laser ao Mi-28. No tocante à família ATAKA o sistema de guiagem empregado é o SACLOS (comando por orientação de rádio).
As características da família 9M120 (inclui 9M120-E):
Peso: 49,5 kg (109 lb );
Comprimento: 1.830 mm;
Diâmetro: 130 milímetros;
Ogiva: HEAT (Alto – Explosivo), montagem em tandem da ogiva, detonação por impacto;
Peso: Warhead (cabeça de guerra) 7,4 kg (16 lb);
Alcance: 0,4~6 km (9M120), 0,4~8 km (9M120-E);
Teto de voo: 0-4,000 m (2,5 km);
Velocidade: 550 m/s (1.800 ft/s ) máximo, 400 m/s (1.300 pés/s) média;
Orientação: Sistema de Ligação Por Rádio Comando – SACLOS; probabilidade de acerto é de 90% contra um MBT a partir de uma distância de 4 km.

Em termos de foguetes não guiados, o Mi-28 equipa-se com casulos B-8M1 e/ou B8V20-A (20 foguetes) para foguetes classe S-8 de 80mm, foguetes estes também empregados pela FAB em seus Mi-35/AH-2 Sabre, S-13 de 122mm (casulo B-13L – 5 foguetes) ou os foguetes S-24B de 233mm (ogiva de 125 kg; 3 km de alcance). Os foguetes da classe S-8, como citado, também são utilizados pela Força Aérea Brasileira, que os considera bastante precisos e os tem em boa conta. Estas armas possuem cabeças de guerra de vários tipos com atribuições específicas. Abaixo as características das principais ogivas da família de foguetes S-8:
S-8KO/S-8KOM: ogiva tipo HEAT, efetiva contra 400 milímetros de RHA[3] a 4 km de distância;
S-8B/S-8BM: ogiva penetrante, efetiva contra 800 milímetros de concreto armado a 2,2 km de distância.
S-T8: ogiva HEAT montada em tandem, efetiva contra 400 milímetros de RHA a 4 km de distância.
S-8S: ogiva composta por 2.000 flechettes, distribuídos em 5 pacotes. Ogiva efetiva no alcance de até 3,5 km.

Percebe-se, portanto, que a capacidade anti-carro não se restringe aos mísseis guiados, visto que esta capacidade também é encontrada nas ogivas dos foguetes ar-superfície. Todavia, dentre as armas portadas pelo Mi-28 se destacam por não serem usuais os mísseis com funções anti-aéreas, caso do 9K38 Igla-S e do Vympel R-73, ambos já integrados à aeronave citada.

Apesar do Vympel R-73 ser uma arma espetacular na arena ar-ar, devido a sua reconhecida capacidade off-boresight, a opção mais popular para armar com mísseis ar-ar o Mi-28 se dá com o 9K38 Igla-S, pelo motivo simples deste último ser mais leve, permitindo maior carga bélica ar-superfície. É possível equipar o Mi-28 com até 16 mísseis 9K38 agrupados em pods de quatro unidades, um pod por pilone.

Os mísseis da família R-73, no caso, R-73E, possuem 105 kg de peso e um alcance de 20 km (30 km para o R-73M1). Já o 9K38 Igla-S por ser um míssil desenvolvido como MANPAD possui um desempenho muito mais modesto, 3,2~5,2 km de alcance com um peso de 10,8 kg. O método de orientação de ambos se dá por cabeça de busca de emissões IR (infravermelho).

O Mi-28 aceita o uso de bombas de queda livre, ou dotadas de dispositivos de propulsão e/ou guiagem, contanto que estas obedeçam ao limite de carga dos pilones (500 kg), o mesmo se dando para os tanques de combustível, em geral transportados nos pilones internos. Os tanques em geral empregados possuem 132 galões, ou 500 litros. Entre as bombas transportadas se encontram aquelas de Napalm, no caso a arma ZB-500, dispersadores de munição também são empregados, tal como o dispersador KMGU-2.

Mi-28 NE para o Brasil
Não é uma novidade que o Exército Brasileiro projeta para um futuro a formação de uma ala de helicópteros de ataque em sua aviação orgânica, tanto é assim, que órgãos de mídia noticiaram a intenção do Exército Brasileiro em avaliar de maneira preliminar quatro aeronaves listadas, Kamov Ka—52, AW-129 Mangusta (Agusta – Westland), EC 665 – Tiger (Airbus Helicopters) e o Mi-28N. É verdade que o processo de formação de uma ala aérea de ataque começa agora a ser gestada e deverá levar um tempo longo para ser concretizada, entretanto, pode-se pensar no Mi-28N como um candidato viável, isto devido à qualidade do seu projeto, da sua concepção militar, onde a robustez e atenção aos danos recebidos em combate são prioridade, bem como ao preço, haja vista que hoje é oferecido ao mercado com preços unitários da ordem de US$ 25,000,000.00 (vinte e cinco milhões de dólares norte – americanos).

O Mi-28N ganhou a distinção de ser eleito o helicóptero de ataque por excelência da Força Aérea da Rússia e a sua versão de exportação ganhou contratos para equipar a Força Aérea do Iraque (36 unidades encomendadas) e do Quênia (16 unidades encomendadas). Outras nações manifestaram interesse, caso da Argélia, que está em processo de recebimento dos ultra pesados Mi-26 T2, Venezuela e Coréia do Norte. Percebe-se que os contratantes externos do Mi-28NE são países de clima quente e seco (Iraque) e clima quente com extremos variáveis de umidade, caso do Quênia, o que para o fabricante Rostvertol (Russian Helicopters) não é considerado um problema dado o fato que a aeronave está habilitada para operação em climas extremos, tanto negativos, como positivos, ou seja, acima de 40º célsius.

Imagem da cabine do operador de sistemas de armas do Mi-28N. Notar a importância da proteção ao tripulante refletida na blindagem do aparelho. Observar que esta preocupação  também se dá quanto a blindagem transparente. Foto: Makapob.

Imagem da cabine do operador de sistemas de armas do Mi-28N. Notar a importância da proteção ao tripulante refletida na blindagem do aparelho. Observar que esta preocupação também se dá quanto a blindagem transparente.
Foto: Makapob.

Cabe notar que ao contrário de alguns postulantes, o MI-28NE não é uma aeronave leve, dado ao reconhecimento armado, mas sim um vetor pesado para a sua categoria, dotado de blindagem extensa, com o maior nível de proteção oferecido à tripulação e grande capacidade de portar cargas bélicas / combustível. Sensores que oferecem vasta consciência situacional, orientação espacial e varredura do campo de batalha aos tripulantes, configurando um projeto onde cerca de 1/3 do seu peso é dedicado ao potencial ofensivo, e os dois terços restantes cumprindo o dever da mobilidade, blindagem e robustez. É desnecessário salientar que o grupo moto-propulsor é reconhecido pela sua confiabilidade e rusticidade, algo confortador para forças aéreas de orçamento apertado, ou desprovidas de base industrial de apoio.

No caso específico do Brasil temos Forças Armadas que contam com uma base industrial, em especial na área aeroespacial, bastante adequada, vasta, todavia inseridas em uma situação orçamentária que por vezes se mostra restrita, ademais, uma aeronave de grande poder bélico e de operação autônoma, caso do Mi28NE, mostra-se interessante para uma nação continental, com diversos perfis climáticos e ambientais, com amplos vazios demográficos a serem vigiados e defendidos. Dá-se, portanto, que vetores desta classe, helicópteros de ataque, se fazem necessários e dentre os candidatos o MI-28NE é sem sombra de dúvida uma grande opção.

Notas
[1]: Bureau de Projetos (de helicópteros) Mil de Moscou, ou como é mais conhecido em inglês, Mil Moscow Helicopter Plant. No contexto soviético as fábricas pertenciam, todas, ao estado e executavam projetos enviados por escritórios dedicados. Tais escritórios de projetos ganhavam o nome de um projetista que por acaso ganhasse destaque devido ao seu mérito e esse é o caso de Mikhail Leontyevich Mil, nascido em 2 de fevereiro de 1909 e falecido em 31 de janeiro de 1970.
[2]: BERP – British Experimental Rotor Programme (Programa britânico para rotor experimental).
[3]: RHA – Rolled homogeneous armour (armadura, ou blindagem, homogênea laminada).

Ficha técnica:
Velocidade máxima: 324 km/h
Velocidade de cruzeiro: 270 km/h
Raio de ação 240 km
Alcance máximo: 460 Km
Alcance estendido: 1.100 km 2 tanques externos
Razão ascensional: 816m/minuto
Teto ascensional: 5.750 m
Fator de carga: 3G
Peso vazio: 7.890 kg
Peso máximo/ decolagem: 12.100 kg

Dimensões:
Comprimento: 17,1 m
Altura: 3,02 m
Diâmetro do rotor: 17,2 m

Motores:
Klimov VK-2500: 2
Potência: 2.200 shp
Potência em regime de urgência: 2.700 shp

Armamento:
Mísseis ar-ar 9K38 – Igla-S R-73 R-73E
Mísseis ar-superfície: 9M120 9M120E 9K114
Foguetes não guiados/séries: S-8 S-13 S-24B
Bombas ZB-500
Dispensador de sub-munições: KMGU-2

Canhões:
Shipunov 2A42 (interno): 30 x 165 mm 250 cartuchos
Casulo externo UPK 23/250
Gsh – 23 (geminado): 23 x 115mm 250 cartuchos
Casulo externo SPPU-22
Gsh – 23 (geminado): 23 x 115mm 260 cartuchos
Casulo externo SPPU-6
Gsh – 23/6 (rotativo): 23 x 115mm 500 cartuchos

4 Responses to Mi-28N/NE: o caçador noturno de víboras

  1. Parabéns, virou “o” artigo de referência sobre Mi-28 no Brasil.
    Para complementar a questão de blindagem :
    http://www.youtube.com/watch?v=m-eug5gW0DI
    http://www.allreadable.com/e34fA7FV
    “9 hits with High-Explosive-Fragmentational ammunition of 20mm cannon.
    22 hits with Armor Piercing Incendiary ammunition of 12.7mm calibre.
    22 hits with high velocity splinters of HE-Frag missiles.
    15 hits with Armor Piercing ammunition of 7.62mm calibre”

  2. Manuelton disse:

    Como é bom ler um portal com qualidade inquestionável!

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