Simulação no Exército Brasileiro: panorama atual e futuro.

Publicado em: 04/10/2013

Categoria: DESTAQUES

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Em 1º de outubro deste ano foi realizado o evento Demandas do Exército Brasileiro – Tecnologias, Produtos e Serviços, nas dependências do 1° RCC, na cidade de Santa Maria, RS (atualmente reconhecida em nível nacional como a Capital dos Blindados e Simulação). Logo no início ficamos impressionados pela presença maciça de empresários (e não apenas do Rio Grande do Sul, mesmo o Diretor do COMDEFESA da FIESP, sr. Sérgio Vaquelli, estava presente e atento, além de outros empresários paulistas), representantes do mundo acadêmico e político (o Prefeito da cidade, dr. Cézar Schirmer, chegou antes e saiu depois da maioria dos presentes), além de diversos Oficiais-Generais, entre os quais nada menos de quatro de Exército (quatro estrelas), que nos brindaram com palestras bastante elucidativas. A simples presença de tantos oficiais altamente graduados em uma cidade tão distante dos grandes centros nos sinalizou o quanto o Exército Brasileiro se interessa pela integração com a BID e o mundo acadêmico. O interesse foi tão grande que vimos várias pessoas em pé, mesmo em uma grande sala como a que estávamos.

O Seminário

Após sermos recepcionados pelo Comandante da 3ª DE, General Miotto, que nos expôs de modo breve e claro no que consistiria o Seminário, bem como seu enfoque, ou seja, o enlace entre o nosso Exército, as empresas e a comunidade acadêmica, com fulcro na nacionalização de meios, serviços e pesquisas/desenvolvimentos. Isto ficou bem claro e foi o enfoque perseguido ao longo de todas as demais palestras. Nesta matéria iremos enfocar a atualidade em Simulação no Exército Brasileiro. Nas seguintes, outros pontos igualmente importantes, visando sempre manter o leitor bem informado sobre o nosso panorama de Defesa. uUlteriores novidades serçao repassadas ao amigo leitor através de nossos já tradicionais updates.

Palestra do Coronel Carrião

“Estamos buscando no mundo soluções para os nossos problemas. Mas o ideal seria que não fôssemos ao mundo mas que, em nosso próprio país, pudéssemos encontrar as soluções para este desafio” Coronel de Cavalaria Giovany Carrião de Freitas, Comandante do Núcleo do Centro de Adestramento e Avaliação – Sul


A seguir nos foi apresentado o Centro de Treinamento e Combate do Sul pelo Coronel Carrião, que destacou as necessidades do Exército Brasileiro. As palestras da manhã foram contradas basicamente na simulação, que ganha a cada vez mais importância no mundo militar moderno, seja pela economia de meios e recursos, seja pela maior segurança ao Operador, seja pela possibilidade de permitir o treinamento de situações críticas que, se feito diretamente no campo, acarretaria riscos inaceitáveis à tropa. A dita simulação é mundialmente dividida em três níveis: Viva (a tropa está desdobrada no campo de manobras com equipamento completo e sensores/designadores laser, tudo conectado a uma Central, que verifica quais disparos foram válidos ou não), Virtual (como diz o nome, é a operação dos meios via simuladores, em centrais especializadas, sem tropas no terreno) e Construtiva (trata-se dos famosos “Jogos de Guerra”, onde se adestram os Estados-Maiores como se no Campo estivessem). Muito interessantes foram as diversas interações entre estes três modelos, evidenciada com abundância de exemplos e detalhes (por exemplo, o General de uma GU (Grande Unidade) vem ao Centro com seu Estado-Maior e passa a comandar normalmente suas unidades; enquanto isso, parte dos meios e tropas de que dispõe está na Viva, outra na Virtual e outra no Campo de Manobras. O General tem inteiro conhecimento, Comando, Controle e Comunicações em tempo real, conduzindo e verificando o estado e resultados obtidos por seus comandados sem sair do Centro mas como se estivesse com seus meios desdobrados e atuando em um campo de batalha real). A ênfase na ampla demanda tecnológica envolvida foi uma constante, bem como o chamado à comunidade Empresarial e Acadêmica para participar. As oportunidades são quase inesgotáveis. Foi ainda amplamente destacada a importância da informática e simulação no aperfeiçoamento dos recursos humanos com economia de material e recursos, podendo-se inclusive realizar manobras entre unidades distantes entre si em tempo real.


Coronel Carrião


Alguns fatores que nos chamaram a atenção:

1 – A ousadia e ambição do projeto que – exemplo inédito em nível mundial – ao invés de treinar em separado, coloca todos os simuladores em um mesmo espaço, permitindo o treinamento integrado/interligado de todas as Armas (Blindados, Infantaria, Artilharia, Engenharia e futuramente Aviação, etc) no mesmo espaço físico, ou seja, no novo Centro.


2 – Fruto direto desta iniciativa, a enorme economia de recursos financeiros, humanos e materiais que será (na verdade, já começa a ser) obtida. Isto, em tempos de orçamentos magros e ainda levando em conta os famigerados contingenciamentos de verbas pelo Governo Federal (seja de que partido for), é de não pouco valor.


3 – O interesse manifesto em compartilhar este conhecimento, esta idéia e mesmo os métodos e meios de treinamento com outras nações, incluídos os países lindeiros. Até na Instrução há o desejo de agregar valor com a participação de Intrutores estrangeiros, trazendo-nos novas idéias e experiências.


4 – O escopo fulcral desta ênfase nas três simulações, levando à Tropa uma experiência muito mais rica e ampla, que influirá decisivamente em sua capacitação para o combate real. Ademais, é impressionante a gama de demandas tecnológicas envolvidas no Projeto e que poderiam ser – ao menos parcialmente, suprida pelas nossas empresas e academias:



Palestra do Tenente-Coronel Ribeiro

“Estamos vivendo uma oportunidade histórica no Exército; gostaríamos que esta oportunidade de mudança fosse nossa, de Santa Maria, do Rio Grande do Sul e do Brasil” – Tenente-Coronel de Cavalaria Marcelo Carvalho Ribeiro – Comandante do Centro de Instrução de Blindados


Nesta palestra, além do incremento da ênfase na cooperação entre Exército, Indústria e Comunidade Acadêmica, vimos inclusive exemplos práticos (um deles a especialização de mecânicos do EB junto ao CTISM – Colégio Técnico Industrial de Santa Maria – na área de Hidráulica e Eletroeletrônica, que está em fase de ampliação). Outros exemplos foram as inúmeras necessidades do Exército, nas áreas de Ensino e Pesquisa, Aquisições e Desenvolvimentos que poderiam e deveriam estar sendo atendidas de modo endógeno. Foi um convite explícito à maior participação de atores nacionais.


Tenente-Coronel Ribeiro


Alguns pontos que nos chamaram a atenção:

1 – A vida útil dos Leopard 1A5 no Exército não passará de uns quinze anos ainda (no máximo). E o EB já se encontra, neste momento, debruçado sobre o que virá a ser o seu substituto. O interesse do Exército na participação nacional neste futuro desenvolvimento ficou claríssimo.

2 – Há um protótipo (na verdade, nos pareceu mais um Demonstrador de Tecnologia) de simulador sendo desenvolvido nas próprias dependências do C I Bld. Tivemos amplo acesso a ele, é ainda bastante incipiente (está sendo desenvolvido com calma e segurança) mas, convenhamos, é um belo começo para se alcançar a independência da necessidade de importar meios do gênero (o que é o caso atual), desenvolvendo-os e produzindo localmente. É inequívoco o chamado ao meio empresarial e acadêmico feito pelo Oficial palestrante. O dito protótipo pode ser visto abaixo:

Ainda está incompleto, há muito a ser desenvolvido e testado (e com pouca verba). Mas perguntamos ao amigo leitor: em sendo – e tudo inica que o será – bem sucedido, o que não poderá ser desenvolvido a partir do que vimos?

3 – Até o final deste mês (Out/13) já teremos quase meia centena de blindados Guarani em Santa Maria.


4 – Para que fique definitivamente clara a ampla gama de oportunidades à Indústria Nacional e ao Mundo Acadêmico em Simulação, citaremos um caso mencionado pelo palestrante: no início deste ano (2013) o Exmo. Sr. Ministro da Defesa compareceu à C I Bld. Lhe foi exposta a necessidade de um determinado sistema de simulação. O modelo escolhido, à falta de equivalente nacional, foi um da empresa espanhola Tecnobit. Nas palavras do palestrante, o Sr. Ministro “autorizou a compra na mesma hora”. O valor? Nada menos de US$ 2,7 milhões. E a demanda por sistemas assim é crescente não apenas no Brasil mas no mundo inteiro. Que oportunidade, não?


Conclusão

O treinamento das Forças Armadas (e mesmo Policiais) emprega de modo crescente a simulação como forma de economizar recursos, meios e permitir maior segurança à tropa. Este é um fenômeno mundial. Há iniciativas já em andamento mas nos parece que poderiam ser melhor e mais agressivamente exploradas como nichos específicos tanto por centros de pesquisa acadêmica quanto pela indústria como estupendas oportunidades. O nosso Exército oferece inclusive orientações quanto à obtenção de verbas federais para perseguir e atingir este objetivo. Que aliás, é perfeitamente sustentável, não apenas no fornecimento às nossas Forças mas também com atenção a possíveis exportações. Segundo o TC Ribeiro, o mercado mundial de equipamentos militares chega a cerca de um trilhão de dólares ao ano e estamos praticamente fora dele, quando já fomos atores importantes. Podemos voltar a sê-lo.


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