UPDATE – Submetralhadora Vityaz – Test Drive

Publicado em: 30/06/2014

Categoria: DESTAQUES

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Passamos agora ao Test Drive da submetralhadora Vityaz, desenvolvida originalmente como sucessora da Bison em equipes de Operações Especiais da Rússia, sempre lembrando ao amigo leitor que não estão em evidência as características e capacidades do autor como Atirador mas sim as inerentes à arma, visando proporcionar a mais precisa impressão possível do que um Operador pode esperar caso necessite utilizar este equipamento. Assim, deixamos de lado preciosismos como agrupamentos normais e contra o relógio, etc, já que a proficiência não é a mesma para todas as pessoas e a preocupação do autor é apenas para com o comportamento e características da arma em si. Isso posto, passemos a um breve histórico e à descrição geral.


Breve Histórico


Esta arma foi projetada segundo requisitos especificados por unidades de Operações Especiais russas, tendo suas primeiras versões entrado em serviço na segunda metade da década passada. Grande parte de suas peças e características pode ser compartilhada tanto com sua antecessora, a Bison, já descrita e testada pelo Portal Defesa, quanto pelo fuzil AKS-74. As principais diferenças em relação à sua antecessora residem nos carregadores em polímero de modelo convencional curvo – podendo ser presos em duplas com o uso de um plug metálico de desenho proprietário – e na telha (guarda-mão) mais convencional, na verdade intercambiável com o do AKS-74. A empunhadura também escapa ao “padrão AK” sendo, no entender do autor, algo mais ergonômica. Finalmente, a arma que testamos possuía a versão russa dos conhecidos trilhos Piccatinny. Mostramos abaixo as citadas diferenças:


Versão russa dos trilhos Piccatinny.


Carregadores em polímero.


Novo tipo de empunhadura. A arma está travada, sendo as posições AB para full e OA para semi.


Na visão do autor, é inegável que houve um pequeno porém importante ganho em praticidade e ergonomia, mesmo que à custa de algum aumento em peso. Devido à virtual ausência do passeio do centro de gravidade da arma durante sequências rápidas de tiro (que citaremos e demonstraremos mais adiante), alguma economia também será certamente obtida nos treinamentos. A nosso ver, não é uma arma tão puramente dedicada a Operações Especiais, podendo também ser empregada por Operadores algo menos adestrados, como unidades de retaguarda e Polícias das Forças Armadas. Mas não nos enganemos, é arma simples de operar e manutenir porém muito precisa e letal.


Algumas Características da Arma que Testamos

  • Calibre: 9 x 19 mm (9 mm Luger/Parabellum);

  • Peso: cerca de 2,7 kg (sem o carregador);

  • Comprimento: 690 mm total, 460 mm com coronha rebatida;

  • Comprimento do cano: 230 mm (compensador incluído);

  • Carregador: feito de polímero, capacidade até 30 cartuchos 9 mm P;

  • Funcionamento: blowback, disparando com o ferrolho na posição fechada;

  • Cadência Nominal: cerca de 700 disparos por minuto;

  • Velocidade de boca: cerca de 380 m/s (conforme a munição).



Vityaz com dois carregadores apresilhados pelo clip.



A Arma



À primeira vista, se não fosse a presença dos carregadores para 9 mm e o muzzle-breaker menor (e removível), se pensaria estar diante de um AKS-74U, tal a semelhança. Que aumenta ainda mais quando se abre o mecanismo. Tudo, peças e procedimentos, é puro AK, como na Bison anteriormente testada. Apenas o acabamento parecia melhor, o que talvez fosse efeito da telha em polímero e trilhos. Em termos mecânicos, no entanto, é praticamente a mesma arma, com a diferença que alimenta em dupla posição (carregador escalonado), enquanto a da Bison é simples (carregador helicoidal). A comunalidade com o AK, aliás, aumenta para cerca de 70% das peças e partes. Outro ponto em comum com a arma que testamos antes é que esta igualmente se encontrava “zero km”, o que pudemos constatar pela “dureza” de partes como o retentor da mola e guia e do seletor de fogo. No filme mais abaixo isso se revela evidente e algo incômodo. Após devidamente “amaciada”, a arma começou a se comportar cada vez melhor.


É outro equipamento plenamente capacitado para Operações Especiais. A possibilidade de atarrachar um Redutor (silenciador/supressor) de Som o indica, embora lamentavelmente não houvesse nenhum à disposição para testarmos. Na verdade esta arma deve seu nome às unidades de Operações Especiais Vityaz da Rússia, embora não tenhamos visto nada que desaconselhasse seu emprego por unidades mais “comuns”, dada a sua simplicidade e rusticidade. Numa rápida comparação com a MP-5, poderíamos atestar que a arma alemã apresenta a vantagem de efetuar rajadas curtas com o simples acionamento da tecla correspondente, além de ser algo mais leve e ergonômica; já a russa leva vantagem no preço bem menor e muito maior simplicidade e robustez do mecanismo, sem perdas em precisão que o autor tivesse notado. O aparelho de pontaria é regulável para 100 e 200 metros, um exagero para este tipo de arma, no entender do autor, mas de fácil e rápido ajuste e enquadramento.




Aparelho de pontaria da Vityaz.



Controles, alavanca solidária ao ferrolho e suas vantagens, tudo o que foi dito a este respeito sobre a Bison pode ser repetido sem qualquer problema sobre a Vityaz, assim, pouparemos o amigo leitor de ler apenas mais do mesmo. Na verdade, as diferenças entre ambas aparecem apenas quando se opera com elas. É o que mostraremos a seguir.



Enfim, Tiro!



Reafirmando seu procedimento em qualquer teste deste tipo, ao autor deseja frisar que sua atenção foi inteiramente absorvida pelo comportamento da arma, sem maiores preocupações com agrupamentos ou tempo. Outros se encarregaram desta parte e repassaram os dados no debriefing pós-sessão de tiro. O notável foi que, com esta arma, conseguimos “driblar” o Instrutor e filmar uma sequência de disparos simulando uma ação tática de progressão e fogo. Foi a única vez que isto foi possível e já estávamos com apenas meio carregador, mas valeu a pena. Mas comecemos do princípio.


A alimentação do carregador é tão simples quanto a de qualquer submetralhadora moderna, simplesmente ir empurrando os cartuchos para baixo, sem as algo complexas manobras necessárias ao da Bison. Apesar de os carregadores serem novos, a mola não incomodava, sendo apenas necessário um pouco mais de força nos últimos cartuchos, mas nada fora do esperado. Sua inserção na arma é tão fácil e fica posicionado com tão clara firmeza que sequer se tem a tentação de dar o velho “tapinha” para cima. Alimentada a arma e com o seletor devidamente posicionado na posição superior (travada), fomos em direção aos alvos, notando que o CG (centro de Gravidade) da Vityaz é praticamente neutro, facilitando sobremodo uma correta empunhadura sem ter que “escolher” muito. Sobre empunhadura deste tipo de arma o autor tem a dizer que não emprega aquela que virou moda nos últimos anos, segurando a parte dianteira da arma pelo carregador. Há uma telha (guarda-mão) ali e não é um simples enfeite, tem sua função. Quanto mais espaço tivermos entre as mãos, maior a firmeza e, portanto, maior a precisão, principalmente em sequências rápidas de disparos. Claro, há cenários táticos em que a tal empunhadura curta é mesmo a melhor, como em certos tipos de progressão em recintos fechados, por exemplo, mas o que deveria (sempre na visão do autor) ser exceção acabou virando regra, aparentemente.



Telha é para ser usada.



Após finalmente ser dada a ordem de disparar, o autor, posicionando o seletor em semi (todo para baixo), efetuou uma série de disparos, iniciando com alguns visados e espaçados e passando em seguida a double-taps. A arma mal estremecia nas mãos, tal a neutralidade de seu comportamento, mantido até o último cartucho ser deflagrado. Então, troca de carregador e seletor indo, com algum trabalho, para full auto (rajadas). Aí outra peculiaridade do autor, ser avesso a rajadas mais longas. Sem problemas, o gatilho, combinado com a relativamente baixa cadência de tiro da Vityaz, permitia sem problemas rajadas bem curtas (dois ou três disparos de cada vez, inclusive em sequências rápidas) e inclusive seu intercalamento com disparos singulares, ou seja, semiauto com o seletor em full. E a arma se comportava soberbamente, nenhum incidente de tiro a reportar e uma deliciosa ausência de muzzle. Até então os disparos eram efetuados “pelo regulamento”, ou seja, o Operador parado em pé. Eis que, ali pela metade de um carregador, surgiu a chance e a aproveitamos: paramos a sequência que estávamos efetuando e, sem perder tempo remuniciando, simplesmente refizemos as regras, o que resultou no filme abaixo:



Podemos ver que, mesmo com o autor em movimento, a arma em si se mantém praticamente imóvel, o que favorece sem sombra de dúvida a precisão nas sequências rápidas. Pode-se ver que tanto bursts de dois e três disparos convivem harmonicamente com fogo em semi. Nota-se também a “dureza” do seletor de regime de fogo: apenas nos últimos disparos do teste, não filmados, começou a se tornar menos difícil trocar de semi para full. Outra coisa que não podemos deixar de comentar foi um excelente agrupamento de dez disparos em semi efetuado por um dos colegas a cerca de quarenta e cinco metros do alvo. Na verdade foram dois agrupamentos, metade na cabeça e metade no tórax da silhueta-alvo, todos muito juntos. O autor acredita que não seja necessário dizer mais nada sobre a precisão intrínseca a esta arma. Muito boa!



Conclusão



Na opinião do autor e demais colegas, ficou claro durante o debrief que esta arma, ao contrário de sua antecessora, tanto pode ser utilizada por Operadores comuns, por sua simplicidade e robustez, quando pelos de Operações Especiais, dada a precisão e suavidade de funcionamento. Foi um grande prazer ter operado com a Vityaz que, a nosso ver, não perde praticamente em nada para a MP-5, sendo esta apenas um pouco superior em quesitos menores. Para “tirar a teima”, passamos a pleitear também um teste comparativo, provavelmente para o próximo ano, entre ambas. Então sim, poderemos ter uma opinião mais clara. Até lá, nossos renovados agradecimentos ao Ministério do Interior da República Oriental do Uruguay, que nos apoiou sempre e com decisão. E claro, agradecemos a você, caro amigo leitor, por nos prestigiar com sua atenção. Voltaremos com novos Test Drives e não apenas de armas mas também de veículos e equipamentos militares. Basta aguardar.


UPDATE – Disparamos novamente a Vityaz em março passado, desta vez com mira holográfica e dois carregadores apresilhados. As características de ergonomia e comportamento ao tiro acima citadas permanecem – como teria de ser – as mesmas mas a facilidade de pontaria e remuniciamento foram bastante melhoradas. Se nos faltava alguma razão para acreditar que tal melhora ocorreria, não falta mais. O enquadramento com ambos os olhos abertos é magnífico (quase sem perder visão periférica no olho direito) e a troca de carregador é puramente instintiva, puxar, deslocar e empurrar para cima. Ambos os filmes feitos não saíram bons (estávamos ainda aprendendo a usar a câmera GoPro), assim, não os iremos aproveitar. Fomos ainda informados que, em comparação à MP-5, é arma mais robusta e de logística mais simples.


Vityaz com dois carregadores apresilhados e mira holográfica fixada aos trilhos Picatinny.



Portal Defesa

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