Campo Grande – MS
Entre 29 de junho a 03 de julho deste ano a Base Aérea de Campo Grande (BACG) – MS recebeu pela segunda vez o Exercício Operacional C-SAR (Combat Search em Rescue) ou Busca e Resgate em Combate, edição 2015, tendo o primeiro exercício ocorrido em 2014. Com cerca de 350 militares, 15 aeronaves e mais de 10 esquadrões vindos de norte a sul do País, contou com a presença de todas as unidades de Asas Rotativas da Força Aérea Brasileira (FAB), da BACG e outras de apoio. Também contou com a presença de membros observadores do Exército Brasileiro e Marinha do Brasil que participaram de algumas missões. O exercício é realizado pela Segunda Força Aérea (II FAE), unidade responsável pelo preparo operacional das unidades de busca e salvamento da Força Aérea Brasileira.
Os esquadrões que participaram com aeronaves:
- 5°/8° GAv “Pantera” e 7°/8° GAv “Harpia”, operadores do H-60L Blackhawk ;
- 1º/8° GAv “Falcão“, operador do H-36 Caracal ;
- 2º/8° GAv “Poti“, operado do AH-2 Sabre;
- 2°/10° GAv “Pelicano“, operador do SC-105 Amazonas e H-1H Huey, futuro operador do H-36 Caracal(em 2016) ;
- 3°/8° GAv “Puma“, operador do H-34 Super Puma, futuro operador do H-36 Caracal(final de 2015);
- 2°/6° GAv “Guardião“, operador do avião de alerta aérea antecipado e controle (AEW & C) E-99;
- 3°/3° GAv “Flecha“, operador do avião turbo hélice de ataque leve A-29 A/B Super Tucano.
Unidades de apoio ou observação:
- Grupos de Defesa Antiaérea (GDAAE);
- 1° GCC(Grupo de Comando e Controle);
- 1°/11° GAv “Gavião”.
- Esquadrão Aeroterrestre de Salvamento (EAS)
- Exército Brasileiro
- Marinha do Brasil
Aeronaves em intensa movimentação no pátio, Exercício Operacional C-SAR 2015 : Foto – Gerson Victorio
O C-SAR objetiva o resgate das tripulações de aeronaves abatidas ou acidentadas em território hostil, podendo ainda resgatar militares ou tropas especiais em situação de conflito, para isso conta primordialmente com o emprego de helicópteros, que devido a sua capacidade de pairar no ar, permite o pouso e decolagem em pequena área aberta, quando isso não é possível, o uso de rapel e técnicas de içamento são utilizadas.
A primeira ação ocorre com um questionário a ser respondido pelos pilotos que realizarão as missões em área hostil. No questionário são feitos perguntas de cunho pessoal, as respostas serão utilizadas pelas equipes envolvidas no resgate em caso de ejeção ou pouso forçado, esse procedimento recebe o termo “autenticação”, visa identificar através de resposta afirmativa se o militar a ser resgatado não é um engodo das forças hostis, fazendo se passar por “amigo”, atraindo a aeronave e os resgatistas para uma emboscada.
Paraquedistas
No C-SAR deste ano houve lançamento com o SC-105 Amazonas (do Esquadrão “Pelicano”) de paraquedistas em salto livre operacional a grande altitude. Dependendo da missão, a infiltração de tropa especial com paraquedas no terreno hostil pode ser a primeira ação desenvolvida antes de um resgate. Uma vez no solo, a discrição da tropa permite avaliar as condições do terreno e a existência ou não de forças adversas na área alvo, além de poder fazer a busca e proteção do militar abatido até o momento do resgate.
VANT
Outro recurso que pode ser utilizado na missão é o uso de VANT(Veículo Aéreo Não Tripulado), aeronave sem piloto, capaz de permanecer longas horas em operação e controlada remotamente por estação terrestre a grande distância. Com variados tamanhos, pode abrigar uma série de sensores como FLIR e radares. Sua baixa assinatura acústica e visual permite uma operação muito discreta, fazendo observação e trabalho de inteligência do terreno com imagens de vídeo em tempo real de dia ou noite, sendo imperceptível pelo inimigo. A FAB dispõem de dois modelos de VANT, o RQ-450 e RQ-900 da Elbit System israelense, ambos operados pelo 1º/12º GAv Esquadrão “Horus”. O RQ-900 participou da edição C-SAR 2014 na BACG, o exercício deste ano não houve participação de VANT.
VANT RQ-900 do 1°/12° GAv Esquadrão “Horus” na operação C-SAR de 2014: Foto – Gerson Victorio
Pacote
Para o resgate em combate é utilizado o chamado “pacote” de aeronaves, o componente aéreo que pode ser composto de helicópteros, aviões e VANT. A FAB dispõem dos helicópteros de transportes H-34, H1-H, H-60L e H-36. Até o final do ano a Força contará com a versão especializada C-SAR do H-36, com probe de reabastecimento aéreo, sensores de auto proteção e FLIR. A FAB será a única força capaz de reabastecer helicóptero em voo no hemisfério sul, o que ampliará em muito a capacidade C-SAR. O H-36 substituirá o H-34 e H-1H nos próximos anos. O helicóptero de transporte tem a missão de levar o grupo de resgate, formados por membros do PARASAR, garante a segurança do perímetro no local do pouso contra eventual força hostil, além de “autenticar” e resgatar o militar sinistrado. As aeronaves vão artilhadas nas laterais com duas metralhadoras calibre 7,62x51mm para auto proteção.
H-60L do 5º/8° GAv “Pantera” com duas M134 Minigum 7,62 mm em cada lado também fez a escolta das aeronaves de transporte: Foto – Gerson Victorio
O H-60L utiliza a Minigun Gatling M-134 de seis canos da General Electric, capaz de atingir até 6.000 tiros por minuto, o H-34, H-1H e H-36 com a MAG(Mod-60/30) da FN Herstal capaz de 1.000 tiros por minuto. O AH-2 Sabre, helicóptero de transporte e ataque, tem como missão a escolta e proteção da aeronave de resgate, provendo cobertura e apoio de fogo aproximado em caso de confrontação com forças hostis no terreno. Pode ainda prover combate aéreo limitado e realizar antes do resgate, a “varredura” na local de pouso com uma passagem baixa para atrair eventual fogo de solo desviando a atenção da aeronave de resgate. Nessa missão o Sabre vai configurado como helicóptero de ataque, tripulado apenas com o piloto e copiloto, sua cabine de transporte vai vazia. Possui dois canhões geminado Gsh-23L de 23mm com 3.400 disparos por minuto, misseis 9M120 ATAKA(6km) e foguetes S-13, S-24B e S-8 de 80mm. No exercício C-SAR desse ano o H-60L do “Pantera” também fez a escolta e proteção das aeronaves de resgate. O A-29 Super Tucano, avião turbo hélice, provê a cobertura aérea do pacote em altitude mais elevada e a distâncias maiores com relação ao Sabre e Blackhawk de escolta, que operam muito mais próximos à zona de resgate.
O AH-2 Sabre do “Poti” com seu canhão duplo de 23mm e FLIR, é capaz de escoltar diuturnamente as aeronaves de transporte: Foto – Gerson Victorio
Como seria um elemento de A-29 fazendo a cobertura aérea elevada nas proximidades da área do pouso: Montagem – Leonardo jones, foto – Gerson Victorio
A quantidade de aeronaves envolvidas no resgate pode variar conforme o grau de ameaça representado pelo inimigo na área. O número de helicópteros pode ser com o mínimo de dois ( transporte e escolta), três (2 transporte e 1 escolta ou vice-versa) ou quatro aeronaves sendo duas de cada tipo, com cobertura mais ampla por elemento de A-29, o acompanhamento e monitoramento do terreno em tempo real pode ser feito por VANT. Em geral, quanto maior o nível de hostilidade, maior o numero de aeronaves envolvidas para aumento das chances de sucesso. Com muita interação entre os diferentes tipos de helicópteros, os voo ocorreram de manhã, a tarde e de noite(com NVG). A maioria dos pacotes teve a formação de quatro aeronaves: Caracal(2)/Blackhawk(2), Blackhawk(2)/Sabre(2), Sabre(2)/Caracal(2) e Blachawk(4), acontecendo ainda voos do Super Puma(1) com o Sabre(1) na escolta.
H-36 do 1/°8° realizou as missões de transporte e resgate C-SAR artilhados com duas metralhadoras FN MAG 7,62 mm nas laterais: Fotos – Gerson Victorio
Posto avançado e datalink
No exercício foram utilizados postos avançados de reabastecimento, a operação visa testar o apoio logístico das aeronaves em rota nos pontos de apoio a missão, dentro do teatro de operações. Uma equipe localizada estrategicamente no terreno utiliza toneis de armazenamento de combustível para o reabastecimento dos helicópteros no solo garantindo o aumento de sua autonomia. Os helicópteros recebem o combustível e prosseguem na missão. Outro procedimento testado foi o uso do datalink pelo H-36 do 1º/8° GAv “Falcão”. A aeronave possui o rádio Rohde & Schwarz XM6313 série MR6000R, com SECOS(Secure Communication System), Sistema de Comunicação segura, capaz de operar em VHF/UHF podendo enviar e receber dados com EPM( Electronic Protection Measures), Proteção Eletrônica de Mensagem, com salto de frequência.
Acompanhamento
“Durante o exercício, as técnicas utilizadas pelos militares são verificadas e avaliadas. A partir daí é possível medir a eficiência de nossas equipagens e tripulações. Além disso, também permite que façamos alterações e atualizações doutrinárias de acordo com as situações levantadas na execução das missões e em alinhamento com o que esta acontecendo no cenário mundial sobre o tema”, explica o Chefe de Doutrina da II FAE, Capitão Aviador João Carlos Perpétua Barbosa.
A FAB possui um manual(Padrão da OTAN) para atuação em CSAR, fruto de estudos realizados com base em missões reais de outros países com maior experiência no assunto. Antes de realizar o treinamento, os militares passam por aulas teóricas para atualizar e nivelar o conhecimento entre os participantes. Antes de cada voo, todos os envolvidos realizam briefings para estudar a estratégia, cenário e condições da missão. Após a atividade, são realizadas reuniões para avaliação daquilo que foi feito durante o treinamento. Durante o CSAR, é verificado como está a eficiência das equipagens e tripulações de acordo com o que está previsto nos manuais.
Mesmo sendo uma operação voltada para uma situação de combate, o Brigadeiro Pitrez explica que as atividades podem ser utilizadas em outros casos. “Os conhecimentos de resgate em combate também podem ser aplicados em tempos de paz, ou seja, as técnicas utilizadas em combate são as mesmas técnicas que nós usamos em um resgate ou salvamento em tempo de paz”, revela.
O exercício é dividido em três partes. A primeira consiste em aulas e briefings, para nivelamento doutrinário entre as unidades; na segunda parte ocorrem voos de formação e elevação operacional; a última parte é a análise e avaliação das técnicas e táticas executadas.
Portal Defesa
Como de costume, meu amigo, uma excelente matéria. 😉
Obrigado Wellington.
Excelente, muito obrigado!!
Obrigado Lucas Lasota.