Por: César Antônio Ferreira
Todos aqueles que já o viram, relatam a imponente impressão que sentiram à primeira vista. Assim é, e sempre será, um “Flanker”! (Código da OTAN para o SU-27 e família, que se tornou popular para designar o avião).
A imponência se destaca pelo grande tamanho, sendo este derivado dos requisitos havidos no projeto: exigia-se o domínio completo do espaço aéreo inimigo, o que resultava em um longo alcance, com tempo elevado de permanência sobre o alvo… A resposta seria uma célula com grande capacidade de transporte interno de combustível.
Poucos sabem, mas o SU-27 quase morreu ao nascer. A sua primeira concepção, materializada no protótipo T-10, mostrou-se insuficiente e abaixo dos padrões exigidos. Este protótipo possuía as derivas duplas montadas com uma separação menor e acima dos motores, uma asa com uma ponta sem corte, e uma fuselagem simétrica. O desempenho obtido foi relatado como “medíocre”, o que levou o Bureau Sukhoy, em desespero de causa, a reprojetar a aeronave à toque de caixa. A aeronave reprojetada reapareceu com os motores elevados na célula, com as derivas colocadas no flanco externo destes, maiores e com maior separação entre as mesmas, as asas ganharam recorte nas pontas e um novo formato, e a fuselagem perde simetria, ganhando uma corcova pouco acentuada. Nascia aquele que ganharia um apelido (OTAN) que rodaria o mundo: “Flanker”!
Nas feiras aeronáuticas de Le Bourget e Farnborough, o SU-27 demonstra uma agilidade assombrosa para uma aeronave do seu tamanho, iniciando ali, pela força expressiva das manobras, uma lenda, um mito. Em evoluções impossíveis para outras aeronaves, formou uma legião de apreciadores, principalmente, devido a afamada manobra denominada como “Cobra Pugachev”, realizada no Salão Aeronautico de Paris – Le Bourget, em 1989, pelo piloto de provas Viktor Pugachev. Ela consiste em levantar o nariz do caça abruptamente, em um elevado ângulo de ataque, e manter-se desta forma, vertical, por alguns segundos, “pendurado em seus motores”.
Manobra obra Pugachev. Imagem: internet.
O SU-27 sobreviveu ao fim da URSS como entidade política, ganhando operadores pelo mundo afora com aeronaves derivadas, que ganharam o designativo SU-30, tornando-se assim o grande sucesso de exportação militar da república herdeira da URSS, a Federação Russa. Dentre as nações operadoras do Su-30 encontram-se a Índia, Indonésia, Malásia e Venezuela, contando entre estas até mesmo forças aéreas de nações com poucos recursos, caso de Uganda.
O ultimo desenvolvimento desta família é o caça multi-propósito SU-35, objetivo deste artigo.
Encomendado em dois pedidos de 48 unidades cada, totalizando 96 unidades, sendo o primeiro lote com entregas finais esperadas para o ano de 2016, e o segundo lote, para o ano de 2020. Desta maneira, em 2020, caso não ocorram atrasos, 96 SU-35 estarão aptos para equipar os esquadrões da Força Aérea da Federação Russa.
SU-35S voando carregado. Imagem: internet.
Por ser uma aeronave multi-missão, o SU-35 está equipado para usar uma vasta gama de armamentos, para missões ar-ar, ar-mar, ar-terra. Para missões ar-ar; encontram-se integrados: R-73E e R-74 (WVR), R-77-1 (BVR). Espera-se a integração do míssil de longo alcance R-37M (K-37M), bem como das versões em desenvolvimento dos mísseis R-74 e R-77, respectivamente R-74M2 (K-74M2) e R-77M (K-77M), todos estes em fase de testes.
Entre as armas para emprego ar-superfície, exibem-se os mísseis Kh-58Ush e Kh-31PM, ambos de uso em missões de supressões de emissões inimigas (antirradar), Kh-38M, além das bombas guiadas de 1500 kg, 500 kg e 250 kg. Para emprego contra alvos navais, tem-se as armas Kh-31AM, Kh-35U/Kh-35UE e Kh-59MK. É esperada a integração de duas armas anti-navio de grande capacidade: Yakhont (P-800 Oniks)/Brahmos e Kalibr-A (família “Klub”, 3M54).
Como último recurso, o piloto pode contar com o canhão orgânico de 30mm GSh-30-1 com 150 disparos.
A potência do SU-35 é representada por um par de turbinas AL-41FIS (Izdeliye 117S), projetadas pela NPO Saturn, com produção relegada a UMPO. O motor exibe em potência máxima, ou seja, com o uso de afterburner (pós combustor), o valor de 14.500 Kgf, o que equivale a 142 Kn! Em regime de cruzeiro, ou seja, sem uso do pós-combustor, o valor equivale a 86,3 Kn (Kn= quilonewton; Kgf=quilograma força. 1 Kn = 101,97 kgf). O AL-41FIS exige revisão a cada 4.000 horas. Os bocais vetoráveis são idênticos aqueles da série 30 (SU-30 MK), ou seja, exibem 15º de deriva vertical (para cima, para baixo).
O Su-35 manteve a característica de poder transportar internamente uma grande quantidade de combustível, sendo esta característica ampliada 22 % em relação aos membros anteriores da família “Flanker”, totalizando 11.500 kg de combustível. Desta forma, apesar de exibir a capacidade de carregar tanques alijáveis, em termos práticos não o necessita, podendo por isto aproveitar os doze pontos existentes para transportar apenas armas, em um total de 8.000 Kg (8 toneladas).
Como meio de detecção principal o SU-35 possui o Radar N-135, também conhecido como Irbis-E. Radar Phased Array, ou seja, de varredura eletrônica passiva (PESA). Capaz de acompanhar enquanto realiza a varredura 30 alvos aéreos, com engajamento simultâneo de até oito aeronaves com mísseis BVR com cabeças de busca ativa. Para ataques terrestres, os ataques simultâneos são de até quatro alvos, sendo o Irbis-E capaz de varrer e mapear o terreno com alto grau de resolução. A potência operativa do radar se situa entre 20 Kw (pico) e 5 Kw (operação normal). O radar exibe dois modos de operação: Longo Alcance e Normal. No modo Longo Alcance um alvo com 3m² (RCS) é detectado em uma distância de 350 ~ 400 km. Neste modo, o ângulo de varredura se limita a 100°. No modo Normal, o alvo de 3m² (RCS) é detectado entre 170 ~150 km, sendo que o ângulo de varredura possui a abertura de 300°! Os alvos de baixa reflexão, ou seja, com 0,01 m², são detectados a 90 km. O radar possui uma suíte automática de classificação de alvos na forma de uma biblioteca, que informa o piloto o tipo de aeronave que ele irá enfrentar.
Antena do Radar Irbis-E. Imagem: internet.
O sensor passivo compreende o IRST OLS-35, fornecido pela empresa NPK SPP (Moscou). Composto por um sensor térmico infravermelho (IR), uma câmera de TV, espelho de varredura e um designador a laser. A detecção pelo IRST em alvos com aproximação frontal é da ordem de 50 ~ 35km, e de 90 km em afastamento. Já as marcações de alvos pelo laser, alcançam as distâncias de 200 metros até 20 km. Todos os sistemas citados comunicam-se entre si e fornecem os dados ao piloto, em seu sistema de mira montado no capacete. Para autodefesa, o SU-35 conta com o sistema de alerta OAR de aproximação de míssil de guiagem IR com seis sensores espalhados pela célula para cobertura de todos os hemisférios, indicando precisamente ao piloto a direção da ameaça. Para autoproteção contra iluminação à laser, conta com o alerta OLO, capaz de indicar o ângulo incidente da iluminador. O alerta radar é composto pelo sensor L150-35 Pastel, que permite lançamentos de arma anti-radiação. Por fim, no que tange aos sensores, a suíte de ECM (contra-medidas eletrônicas) Khibiny-M.
O SU-35 é uma aeronave que cumpre com os parâmetros estabelecidos pelos seus criadores, que é uma aeronave capaz de impor a superioridade aérea sobre o espaço aéreo inimigo, promovendo ao piloto plena capacidade de avaliação situacional. Em outras palavras: um caça capaz de assustar o inimigo!
Características do SU-35 BM:
Comprimento: 21,90 m.
Envergadura: 15,30 m.
Altura: 5,90 m.
Enflexamento das asas: 42°.
Velocidade Máxima (11.000 metros): 2,25 Mach (2.756 Km/h).
Velocidade máxima ao nível do mar: 1.400 km/h.
Teto operacional: 18.000 metros.
Limite G: 9 G.
Taxa de subida: 325 m/s.
Raio de ação: 1.580 km.
Alcance máximo com combustível interno: 3.600 km.
Alcance máximo com tanques externos: 4.600 km.
Peso máximo de combustível interno: 11.500 kg.
Carga bélica externa (máximo): 8.000 kg.
Empuxo: 2x 14. 500 kgf.
Peso de decolagem padrão: 25.300 kg.
Peso de decolagem máximo: 34.500 kg.
Distância de pouso/decolagem: 700 m.
Portal Defesa
[…] artigo sobre o excepcional caça russo Su-35 foi redigido originalmente por mim para o site Portal Defesa, tendo sido publicado na categoria “Destaque” em 18-01-2014. O artigo continua no ar, junto ao […]