Surpreendendo a todos, o Ministério da Defesa emitiu hoje, por volta das 14h, nota convocando a imprensa para uma coletiva no prédio do próprio ministério a fim de anunciar o resultado do programa FX-2.
E assim o foi, anunciando como vencedor após 15 anos de processos, o caça sueco Gripen NG. 36 aeronaves serão adquiridas. Está sendo inclusive estudada a operação de versões C/D do SAAB Gripen enquanto as aeronaves NG não ficam prontas, algo que deve demorar em torno de 48 meses após a assinatura do contrato, prevista para o segundo semestre de 2014.
É uma caça leve monomotor, altamente manobrável e com a versão NG ainda em desenvolvimento. Tende a ser o caça mais sofisticado e poderoso do nosso subcontinente por décadas, mesmo com alguma perda em alcance e capacidade de carga em relação aos demais concorrente, todos bimotores. Não obstante, é muito mais capaz do que qualquer equivalente que tenhamos, colocando a nossa Força Aérea definitivamente no estado da arte.
INDÚSTRIA NACIONAL – Além de a SAAB já ter contatos e centros de excelência em nosso país, como Akaer por exemplo, certamente a colaboração com a EMBRAER é condição sine qua non, com ganhos tecnológicos relevantes, tanto na dinâmica do vôo supersônico, estruturas, revestimentos, integração, etc. Outras empresas, como a Mectron e AEL, certamente também serão contempladas.
E A MARINHA? Bem, há basicamente dois caminhos: ou escolhe outro caça para nossos futuros Navios-Aeródromos (sequer imaginamos um terceiro cenário, literalmente catastrófico, que seria abrir mão de NAes, loucura total, jamais fariam isso) ou arriscam uma versão naval do Gripen, já citada pela própria SAAB com o nome de Sea Gripen. Teríamos então um caso bastante curioso: a Suécia, que nunca sequer operou um NAe e/ou caças embarcados e nós com larga tradição nisso. Poderia ser realmente um belo desenvolvimento conjunto, com ganhos tecnológicos para ambas as partes. A ver.
BID e Mundo Acadêmico – Certamente só terão a ganhar, principalmente no caso de a Marinha fazer a mesma opção da FAB, ainda há e haverá muito a ser desenvolvido e integrado e, portanto, espaço para iniciativas e desenvolvimentos genuinamente nacionais. Lembrar que o A-Darter, míssil ar-ar WVR em desenvolvimento conjunto Brasil-África do Sul já está integrado ao Gripen C/D. Outras armas e munições como o MAR-1, MAN-1, etc, provavelmente seguirão o mesmo caminho já que a abertura total do código fonte de armamentos foi confirmada.
Posição do Portal Defesa – 1998 foi o ano em que o programa FX-1 teve início, 15 anos atrás… Contando na época com concorrentes como F-16, Mirage 2000 e Mig-29, o programa foi descartado em 2002 após anos de dificuldades políticas sob o pretexto de que o dinheiro dos caças seria utilizado no programa Fome Zero, pelo então Presidente Lula.
Após este episódio no mínimo decepcionante, em 2006 o programa foi completamente reformulado pela FAB, dando origem ao FX-2 com previsão de encerramento em 2009, mas que só hoje, 7 anos depois e depois de inúmeros adiamentos pela esfera política, chega ao fim.
A intenção original do FX-1 era a substituição dos Mirage III, que já no final da década de 90 eram considerados obsoletos. O Mirage III pousou pela última vez em Anápolis em 2006, onde já dividia o pátio com aeronaves Mirage 2000, adquiridas usadas e revitalizadas apenas para servirem de tampão por 5 anos, até 2011, ano em que uma nova aeronave, selecionada no programa FX-2, deveria estar sendo entregue.
Não foram entregues em 2011.
E em um esforço hercúleo, a Força Aérea Brasileira esticou a vida útil dos Mirage 2000 por mais 2 anos. Esforço este que a FAB tem feito desde 1998, cumprindo todas as etapas que lhe cabiam do FX-1, do FX-2, e até o dia de hoje, as vésperas da aposentadoria do já completamente esgotado Mirage 2000.
Chega ao fim o processo FX-2, talvez o programa de compra de caças mais longo da história. Programa esse que teve inúmeros episódios marcantes, como o boato do vazamento de um relatório da FAB e a declaração do então Presidente Lula interpretado por alguns como o anuncio no dia 7 de setembro de 2009 da compra dos Rafales franceses.
Sempre cercado de muita polêmica, abastecendo e mantendo cheios muitos espaços de discussão, os programas FX-1 e 2 são parte da história das nossas forças armadas que muitos gostariam de esquecer. Não menosprezando o trabalho dos militares da FAB envolvidos nos dois programas, até porque a atuação dos militares em ambos os casos foi sempre exemplar, mas por reconhecer que chega a ser vergonhoso um país levar cerca de 15 anos para decidir sobre a compra de umas poucas dezenas de aviões.
Temos sempre nos pautado pela isenção e imparcialidade quanto aos concorrentes. Se o caminho escolhido pela FAB e Governo Federal é este, apoiamos sem qualquer restrição. Que venha o Gripen e que nossos Caçadores controlem os céus brasileiros e mantenham a nossa Soberania e Independência. Sabemos que farão o seu melhor. Como sempre, aliás. De resto, sabemos que sempre haverá algum descontente mas, ao menos para nós, o que importa é ver as nossas Forças Armadas equipadas com o que de melhor se puder obter. Se é o Gripen, um enorme BEM VINDO!
Portal Defesa