O SHERPA do Exército Brasileiro

Published on: 06/08/2015

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Xerpa (assim mesmo, com “X”), é o nome dado aos nativos da região do Himalaia que trabalham como guia para os montanhistas que desejam se aventurar na mais alta cordilheira do mundo, incluindo as complexas expedições ao Monte Everest.

São pessoas acostumadas com a altitude e com as sinuosas e perigosas trilhas que todo ano tiram a vida de dezenas de aventureiros. O nome vem de uma etnia que vive mais ao leste, e que foram os primeiros a trabalhar nessa função junto aos montanhistas. O nome pegou e hoje a figura do xerpa é fundamental como guia nas subidas, porém mais importante ainda, como guia na descida, de volta a segurança.

Da mesma forma um novíssimo equipamento em operação no Exército Brasileiro promete servir de guia na descida, a fim de garantir a segurança de valiosas cargas a unidades destacadas no chão.

Estamos falando do MMIST SHERPA, uma caixa produzida no Canadá e de aparência simples, mas capaz de revolucionar as operações de entrega de suprimentos por meio de lançamento aéreo.

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O SHERPA é a caixa preta posicionada no topo da carga.

O SHERPA é um equipamento de guiagem por GPS de cargas lançadas por aeronaves, capaz de entregar com precisão suprimentos diversos, minimizando a exposição das tropas em solo e da aeronave lançadora por permitir que a altitude de lançamento seja maior que a normalmente requerida nas situações em que a precisão se faz necessária, mesmo em condições de zero visibilidade e em terrenos montanhosos.

No Exército Brasileiro o equipamento encontra-se no Batalhão de Apoio as Operações Especiais, em Goiânia, e é mantido e operado pelo DOMPSA (Pelotão de Dobragem, Manutenção de Paraquedas e Suprimento pelo Ar), o que denota qual a função que o SHERPA está destinado a realizar no EB, uma vez que o envio de suprimentos e equipamentos de forma discreta e precisa é completamente compatível com a natureza das operações especiais.

Atualmente apenas um equipamento SHERPA é operado pela força, porém já se encontra em estudo a aquisição de novas unidades. O modelo selecionado foi o Ranger Sherpa 700, o que significa que possui uma capacidade de carga  de até 700 libras, ou 317,5kg, e opera com cargas a partir de 100 libras, ou 45kg.

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Pode ser lançado tanto de aviões como de helicópteros (até mesmo com quase zero de velocidade horizontal), e entrega ao operador uma gama confortável de opções de controle durante o voo e do pouso, se adequando a cada cenário, como veremos a seguir.

O SHERPA é programado antes do lançamento a partir de um sistema chamado LaunchPADS Multi-Mission Manager Compatible, que se resume a um software capaz de planejar todo o voo da carga desde o lançamento até o pouso, considerando o peso, altitude de lançamento, altitude do alvo e cartas de vento atualizadas.

O software entrega ao operador um controle da disposição das cargas na aeronave, um ponto ideal para lançamento, exibe em um mapa em 2D ou 3D toda a trajetória planejada permitindo ainda um lançamento simulado cobrindo todas as fases do voo da carga. Oferece também ao operador o status em tempo real do equipamento durante todo o voo da carga após o lançamento e fornece o playback das missões para debriefing.

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Graças ao uso de paraquedas do tipo “asa”, ao contrário do tradicional redondo utilizado em cargas, é possível ainda configurar as manobras que a carga irá realizar durante o voo, uma vez que o SHERPA mantem completo controle do velame da mesma forma que um paraquedista humano. É possível desviar de obstáculos ou zonas em que não é interessante passar sobre, tudo de forma autônoma após o lançamento desde que essas instruções tenham sido inseridas no planejamento. Outra forma de guiagem da carga é por controle remoto, seja em solo ou por um paraquedista que salte junto com a mesma.

O SHERPA pode ser lançado de altitudes maiores que 29.000 pés MSL (Main Sea Level – Nível Médio do Mar), e por isso é programável para realizar manobras HALO (High Altitude, Low Opening – Alta Altitude, Baixa Abertura) ou HAHO (High Altitude, High Opening – Alta Altitude, Alta Abertura), sendo capaz de se moldar ao cenário em que será empregado. É completamente a prova d’água, podendo pousar em áreas alagadas sem comprometer o equipamento.

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O momento do pouso é uma fase delicada, e por conta disso o SHERPA possui algumas opções, como o pouso automático em que o sistema calcula a direção e intensidade do vento e faz como um avião, buscando as pernas do vento a fim de pousar contra ele de forma suave, geralmente com a metade da razão de descida de um paraquedas redondo.

Há também as opções de pouso em trajetória cilíndrica, que resulta em um voo mais concentrado sobre o alvo. O pouso programado por waypoints, onde o SHERPA busca esses pontos inseridos na elaboração da missão e que o levam ao solo como planejado. E tem o pouso manual, onde um operador em solo utiliza um controle remoto para efetuar o pouso da carga.

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A precisão do pouso do SHERPA chega a menos de 100 metros de CEP (Circular Error Probable), ou seja, ele é capaz de pousar com precisão em uma área menor que 100m ao redor do ponto estabelecido.

Essa precisão é graças ao uso de sistemas de posicionamento global, majoritariamente o norte-americano NAVSTAR (popularmente chamado de GPS), porém o SHERPA também é capaz de utilizar o GALILEO e o GLONASS. Para reduzir ainda mais o CEP, a MMIST oferece como opcional um equipamento que acoplado ao SHERPA, refina a precisão do GPS (SAASM) e introduz uma guiagem inercial ao sistema.

Todas essas características também se aplicam ao lançamento de pessoas, uma vez que o sistema pode ser acoplado a um militar, levando-o com precisão a um ponto pré-determinado sem a intervenção do mesmo.

No Exército Brasileiro o SHERPA foi testado pela primeira vez no final do ano passado, 2014, em conjunto com a Força Aérea Brasileira em Campo Grande/MS, sendo lançado de um C-105A Amazonas do 1º/15º GAv, Esquadrão Onça.

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Foram realizados lançamentos nos dias 4 e 5 de dezembro, o primeiro acompanhado por paraquedistas do Exército e o segundo apenas da carga, e que resultaram em pousos precisos mesmo com a visão do alvo encoberta no momento do lançamento, demonstrando o potencial do equipamento no EB.

O SHERPA promete se enquadrar perfeitamente na realidade brasileira, uma vez que em operações na região amazônica é comum não contar com uma grande área para o pouso de uma carga, sendo o sistema capaz de entregar com precisão em clareiras ou leito de rios.

Assista abaixo a um vídeo dos lançamentos, obtido com exclusividade pelo Portal Defesa:

O Portal Defesa agradece ao apoio do Exército Brasileiro para a elaboração dessa matéria.

Portal Defesa

3 Responses to O SHERPA do Exército Brasileiro

  1. lucaslasota disse:

    Bela reportagem, bem explicativa. Obrigado!

  2. Pelo visto o fato de se ter apenas um equipamento, trata-se de uma avaliação de tecnologia para futuro emprego operacional. Se confiável é uma alternativa de abastecimento aéreo muito interessante, mas seu uso intensivo demandaria a nacionalização futura da tecnologia ou a aquisição de um número mais apreciável de sistemas.

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