Testamos com exclusividade na República Oriental Del Uruguay o fuzil de assalto Kalashnikov AK-103, no calibre 7,62 x 39 mm, sempre com nossa filosofia original, ou seja, o autor não pretende exibir belos agrupamentos; sua preocupação está focada em repassar a você, amigo leitor, as impressões gerais e apresentações da arma, além de suas possibilidades táticas. Como sempre, a recepção ao Portal Defesa no país-irmão foi calorosa e efusiva, tanto que teremos novidades ao final deste artigo.
Breve Histórico
Este fuzil foi desenvolvido a partir da atual versão do AK-74M, cujas principais diferenças (internas) se resumem ao cano e carregador. Este, aliás, pode ser de qualquer modelo mais antigo para o calibre, embora as versões modernas da arma – como a testada – o utilizem na versão em polímero na cor preta. Ademais, o intento principal era a exportação, sendo atualmente a Venezuela o maior comprador, com cerca de cem mil unidades adquiridas, além de uma nebulosa história sobre uma fábrica para a arma e sua munição, cuja entrada em operação continua a ser uma incógnita. Na própria Rússia, segundo informes, a arma é empregada apenas por unidades policiais, interessadas em um poder de fogo maior do que o que pode ser proporcionado pelo algo leve demais 5,45 x 39 mm. Abaixo, o carregador em polímero, devidamente municiado:
Autor segurando o carregador do AK-103.
A Arma
À primeira vista, tem-se a impressão de se estar diante de um AK-74, tal a similaridade. Como dito acima, isso é natural, dado ser apenas uma versão mais potente da dita arma. Dimensões, peso vazio, aparência geral, é tudo AK-74M. A intercambialidade de peças entre as armas é quase total. Vejamos a tabela abaixo:
Como podemos ver, qualquer diferença se prende exclusivamente ao calibre empregado, já que a arma é rigorosamente a mesma, sequer o muzzle-breaker é diferente. Ainda a ser notada a total ausência dos trilhos Piccatinny no modelo testado. O método russo de apresilhar instrumentos de visada ótica, noturna, termal e coisas como lanternas e designadores laser é diferente do que estamos acostumados, o que suscitou várias perguntas por parte do autor.
É um fuzil bastante rústico e robusto, “perdoando” vários maus tratos e desleixos ao Operador. Controles, sistema de desmontagem e remontagem, tudo funciona na tradicional praticidade que fez a fama da família Kalashnikov. A colocação e retirada do carregador é extremamente parecida com a do nosso conhecido FAL, ou seja, encaixa-se em um eixo frontal e gira-se para trás, prendendo-o ao retém. Na foto abaixo, o autor tenta demonstrar (sem muito sucesso, lamentamos):
Tiro!!!
Após o tradicional – e sempre necessário – briefing sobre a arma, versando sobre suas características e peculiaridades e com a sempre presente explicação das normas e procedimentos de segurança (que o autor conhece de cor mas nunca se cansa de ouvir, dada sua importância e o temor de esquecer algo), além da igualmente tradicional aula de montagem e desmontagem, com explicações sobre cada componente e como contribui para o funcionamento total do conjunto, com total liberdade para o autor dirimir eventuais dúvidas que tivesse, passou-se ao estande.
Autor indaga sobre o modo de montar equipamentos ópticos no AK-103.
Após o briefing, estande. Era o momento tão esperado, nosso primeiro contato em tiro real com o fuzil tema desta matéria. Posição padrão, ajoelhado, tronco voltado para a frente, ombro idem, mão esquerda segurando a telha com firmeza mas sem exageros, era hora de começar a ver do que o -103 é capaz:
Esta foto foi feita instantes antes do início da primeira sequência de disparos, ainda em semi (ver seletor e notar que o indicador já se encontra no gatilho).
A foto acima foi produzida frações de segundo antes do primeiro disparo, ou seja, carregador cheio. O autor optou por manter o centro de gravidade da arma tão neutro quanto possível (claro, sem chegar a extremismos como empunhar pelo carregador), embora seja bastante confortável empunhar mais à frente, pois a arma tem excelente ergonomia, dada a coronha dobrável ser relativamente curta, tanto quanto a telha (guarda-mão). A intenção era dar chance à ocorrência de muzzle, o que não se verificou. A arma se manteve totalmente neutra, com o cano sempre voltado para o alvo, apenas vibrando durante os disparos. O recuo é bastante suave, mesmo em full, ou seja, o compensador/freio de boca funciona mesmo! Embora sendo o autor pouco afeito ao uso de miras abertas em armas médias e longas, foi observado que o enquadramento é muito bom, sem os “sombreamentos” comuns, por exemplo, à família M-16/M-4, que chegam (massa de mira) a encobrir quase que completamente o alvo a mais de 200 metros. Não que isto seja um demérito à citada família, já que disparos singulares e precisos contra alvo específico a tais distâncias, na opinião do autor, requerem miras ópticas para maximizar a eficiência.
Ademais, o autor optou por retirar suas luvas de proteção, buscando alguma evidência de sobreaquecimento da empunhadura de polímero. Nada. O calor se concentrava todo à frente, na região onde o cano repassa os gases ao cilindro, lá esquenta mesmo. Quanto à área onde fica o carregador, como não empunhamos arma média nem longa por esta parte, vamos continuar sem saber…
Apesar da distorção causada pela foto, o alvo se encontrava a cem jardas (91,44 m).
Passamos então o seletor para o modo full-auto, no que, para surpresa nenhuma de nossa parte, o fuzil se portou praticamente do mesmo modo que as submetralhadoras anteriormente testadas: é extremamente fácil disparar rajadas curtíssimas de dois ou três disparos de cada vez e ainda intercalando-as com disparos singulares (intermitentes), dependendo apenas do treinamento do Operador, pois a cadência de fogo relativamente baixa, aliada ao quase inexistente recuo, torna tudo bastante simples de aprender e fazer.
Não tivemos oportunidade de efetuar progressões com fogo, pois havia mais gente no estande e isso iria ferir as regras de segurança, o que de qualquer modo não iríamos querer fazer mesmo. Mas é aí que entram as…
Novidades
Nossos hermanos orientales nos acolhem sempre com excepcional amizade e bonomia. Bastou um contato quase que informal e, com a devida autorização já em mãos, poderemos consertar falhas que ocorreram em matéria anterior e mesmo nesta, ou seja, a falta de filmes. Assim, em breve estaremos de retorno ao Uruguay com o fito de sanar estes defeitos, fazendo nosso já tradicional UPGRADE nas matérias, além de colher mais imagens, talvez substituindo algumas já postadas. E avisamos ao amigo leitor que pode contar com alguma “surpresinha” extra (possivelmente mais de uma)…
Notar que em ambos os vídeos havia apenas dez cartuchos por carregador. Não fazia sentido usar, como no TD, carregadores cheios outra vez, o objetivo desta vez era apenas filmar, para mostrar ao amigo Leitor como a arma se comporta.
Conclusão
Não é à toa que o AK (falamos da família toda) é frequentemente citado como “Rei da Selva”. Uma arma que consegue reunir ergonomia, precisão e rusticidade, além de um respeitável poder de fogo, tem assegurado seu lugar no concorridíssimo mundo das armas de emprego militar. Acrescentando-se a isso uma constante evolução, temos a receita do sucesso. Foi um grande prazer testar esta arma e procurar (em vão) maiores defeitos. O autor se confessa ansioso para tornar a operá-la, além de reparar um grave erro (não mostrá-la desmontada, pois o pequeno número de peças e partes impressiona bastante). O agrupamento abaixo visa apenas mostrar a diferença entre fogo semi e full a distâncias maiores (a maioria das perfurações “fora do garrafão” foi em full”).
Un gran saludo a nuestros hermanos de la República Oriental Del Uruguay, por su amistad y ajuda.
Muchas Gracias!
Muito legal Túlio …..