Munições Anticarro – HEAT

Publicado em: 10/11/2013

Categoria: DESTAQUES

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HEAT – High Explosive Anti Tank, Alto Explosivo Anti Tanque – é um tipo de carga química (um APDSFS é cinético, que depende apenas de sua massa multiplicada pela velocidade, enunciada pela fórmula Ec(t) = mv²/2**) pois depende da explosão de uma Carga Moldada (Shaped Charge) por um cone de metal de forma aproximadamente côncava. Esta explosão inverte a forma do cone de metal para convexa até derretê-lo completamente, enviando um jato de metal derretido e gases incandescentes em direção ao alvo através de um espaço praticamente vazio à frente da ogiva. Como é um espaço quase oco, daí o termo Hollow Charge (Carga Oca). Não há um consenso entre a comunidade científica sobre se o metal do cone mantém durante este processo características que ainda o enquadrem como o material original ou se forma uma espécie de plasma. Não obstante, é de justiça dizer que, embora a INICIAÇÃO da reação (explosão) que produz o Efeito Neumann (um aperfeiçoamento do Efeito Munroe) seja efetivamente química, seu efeito terminal é CINÉTICO, já que não é calor que “derrete” a blindagem como um maçarico mas o sim o jato/plasma de metal derretido em hipervelocidade é que a penetra. Uma consideração adicional: ogivas HEAT tendem a perfurar blindagens de menos de quatro a mais de dez vezes o seu próprio diâmetro, dependendo do material que forma o cone metálico e do tipo e quantidade de explosivo que usa e a resiliência do alvo. Aqui um diagrama esquemático sobre uma ogiva HEAT básica:

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1 – Cobertura balística. Na verdade serve para: a) manter o melhor coeficiente aerodinâmico possível ao projétil como um todo, visando maximizar o efeito propulsivo e aumentar o alcance e precisão; b) manter a espoleta que detona a carga em distância ótima ao seu maior poder destrutivo, já que se explodir perto demais o jato destruidor não alcançará sua melhor performance e longe demais começará a se dissipar e c) dar alguma proteção ao mecanismo interno da ogiva.

2 – Redutor. Serve para melhor concentrar o jato numa direção só, ou seja, tão reto à frente e tão fino quanto possível, visando a maior penetração possível..

3 – Cone de metal, que serve para a) moldar a carga explosiva e manter sua coesão e b) unir-se ao efeito da explosão contra o alvo. Nas HEATs mais comuns usa-se o cobre mas foram (e continuam sendo) testadas muitas outras, como alumínio, tântalo (que tem sido usado em armas mais modernas), molibdênio e até urânio exaurido.

4 – Detonador da carga explosiva.

5 – Carga explosiva. As mais comuns são feitas de Octol (baseado em HMX ou Ocotogênio, um explosivo potentíssimo porém excessivamente sensível para ser seguro no uso, então é misturado com outros componentes mais estáveis como TNT) ou outros baseados em RDX que, com misturas semelhantes, formas os chamados Ciclotols ou Ciclonitas. Daria para ir bem mais longe nesta explicação mas aí se estaria infringindo leis vigentes…

6 – Iniciador piezoelétrico do detonador. Ao entrar em contato com o alvo, produz uma corrente elétrica que ativa o detonador em distância ótima.

Ogivas HEAT têm tido diversos usos militares, não apenas para serem disparadas contra veículos blindados. Por exemplo, os engenheiros alemães em Eben Emael usaram cargas assim para demolir ou abrir brechas nas fortificações, e aí vemos outra peculiaridade da HEAT: independe de velocidade inicial para fazer efeito! Também podem ser usadas desde RPGs comuns até sofisticados mísseis AC (além de minas AC, torpedos, granadas disparadas por fuzil e mesmo submunições – Bomblets – aerolançadas em bombas cluster), e mesmo em munições de artilharia, embarcadas em CC ou não. Aqui um diagrama da nova M-830A1, usada nos Abrams:

Zoom in (real dimensions: 800 x 351)Imagem

Mas neste último caso enfrentam a concorrência das munições puramente cinéticas, como as APFSDS que, com sua muito maior velocidade inicial, dão menor chance aos CCs inimigos para tentarem uma reação/manobra evasiva. Um exemplo:

Em testes, um CC T-62 russo, parado, disparou seu 115 de alma lisa com munição APFSDS contra um alvo que se movia a cerca de 19 km/h a 1 km de distância. Foi-lhe atribuída, após os testes, uma possibilidade de 70% de acerto ao primeiro disparo; o mesmo CC, em idênticas condições, passou a disparar munição HEAT, caindo sua possibilidade de acerto ao primeiro disparo a meros 25%. Concluiu-se que esta munição em CCs reduz constantemente sua taxa de acerto à medida que a distância aumenta. Para atingir os 70% da APFSDS, no caso, era preciso estar a cerca de 500 m do alvo, ou seja, metade da distância…

Mas defesas foram criadas, como a blindagem reativa (ERA), que ao ser atingida pela ogiva HEAT, explode, dissipando e desviando a carga principal. A contrarreação não se fez esperar, e em duas formas básicas:

OGIVAS HEAT EM TANDEM (Tandem Warhead)

Trata-se, em sua forma básica, de colocar uma ogiva menor à frente da principal. Esta explode e enfrenta os contraefeitos da ERA, inutilizando-a e abrindo caminho para a carga mais potente fazer o seu trabalho, como o míssil Falarick 105, que pode ser disparado por peças neste calibre embarcadas em CCs. Como curiosidades deste conceito, podemos citar o míssil Hellfire II e uma munição russa para canhão de 125 mm, que possuem cargas em tandem do mesmo diâmetro. Curiosamente, estas duas armas não visam a aumentar a penetração mas sim causa

r efeitos além da blindagem, numa simulação de uma carga HESH combinada à HEAT. O Hellfire II ainda conta com o recurso de uma camisa de fragmentação, para aumentar ainda mais a sua já imensa letalidade.

OGIVA DE ATAQUE PELA VIA SUPERIOR (Top Dawn Attack)

Visa atingir o CC inimigo pelo seu ponto mais vulnerável, a parte superior. Confiram a letalidade de um ataque assim. É um TOW2B pegando um T-72. Notar que a torreta sai voando como uma rolha de champanhe…

Devemos notar que o TOW2B visto no filme possui um novo arranjo de ogivas em tandem cujo cone é composto de tântalo, ambas orientadas para baixo e com detonação simultânea (para incrementar a letalidade contra ameaças atuais e futuras), como mostra a imagem a seguir:

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O método é ligeiramente diverso do usado no BILL 2 que, embora também usando ogivas direcionadas para baixo, leva em conta a possibilidade de haver ERA na parte superior. Então seu algoritmo de detonação é o seguinte: primeiro a ogiva frontal (menor) detona, inutilizando a ERA; quase que imediatamente após, a segunda ogiva entra em funcionamento, perfurando a mais fraca blindagem superior, agora desprovida de ERA. Vejam o diagrama:

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Outra diferença é que o Bill 2 tem duplo modo de ataque, podendo fazê-lo como o acima descrito (sensor de proximidade) contra CCs ou em modo de impacto direto (detonador percussivo) contra alvos de blindagem leve ou mesmo desprovidos dela.

* – Este texto não tem a pretensão de esgotar o assunto, apenas propiciar mais e melhores subsídios a um bom debate, além de ser o rascunho de um artigo a respeito…

** – Podemos usar uma munição bem conhecida para fazer este cálculo, lembrando que EC se calcula em Joules (J), Kilojoules (KJ), Megajoules (MJ), etc. Por exemplo, a PzGr. 40/43 APCR, munição maciça usada pelo imortal canhão 88 mm empregado pela Alemanha na Segunda Guerra. Seu projétil tinha massa de 7,3 kg e velocidade inicial de 1.130 m/s. Já temos os dados, então a energia cinética deste projétil seria de 7,3 x 1,130²/2 > 7,3 x 1.276,900 > 9.621.370/2 = aprox. 4,66 MJ na boca da peça mas, dado o seu formato, muito inferior em termos balísticos a um APFSDS, perderia velocidade e energia muito rapidamente, o que tenderia a reduzir com rapidez sua razão letalidade x alcance.

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