Por que o Scorpène?
Segundo o Almirantado, a principal vantagem oferecida pelo modelo era, além da similaridade com os tradicionais cascos estilo “gota d’água” já empregados em submarinos nucleares (o Scorpène é derivado da classe de SSNs “Rubis/Amethyste”), inclusive incorpora sistemas usados nos atuais SSNs da França, como o sistema SUBTICS, entre outros. Produzi-lo já é uma espécie de preparação para o desenvolvimento e construção de nosso primeiro SSN (SNBR).
Por que a França?
Além da vantagem de desenvolver e produzir submarinos tanto convencionais quanto nucleares, o contrato assinado permite ao Brasil amplo acesso a tecnologias (para nós desconhecidas até então) não apenas sobre métodos construtivos mas mesmo às técnicas e até filosofias que norteiam o projeto de submarinos de última geração, e isto já partindo de uma belonave convencional baseada em outra nuclear. Nenhum outro país do mundo tinha o mesmo a oferecer, ao menos não em tal nível.
O Programa
O PROSUB, visando inicialmente quatro unidades convencionais (versões ampliadas do Scorpène) e uma de propulsão nuclear, foi assinado em dezembro de 2008. Engenheiros e técnicos brasileiros foram enviados à França e construíram, junto com pessoal especializado nativo, as seções 3 e 4 (de ante a vante, um Scorpène tem quatro seções básicas), incluindo a vela (a “torre” do submarino), que foram enviadas ao Brasil. A partir daí passou-se à fabricação autóctone das demais seções, enquanto se iniciava a fabricação da segunda unidade. Há engenheiros brasileiros na França fazendo cursos especializados em projeto, desenvolvimento e construção de belonaves do gênero. Neste momento, entre cursos e outras funções, eles são cerca de 30, com previsão para que cheguem a cerca de 120 ao longo do tempo. Esta fase culminará com a entrega do primeiro SBR (convencional) em torno de 2017, sendo as demais unidades entregues sucessivamente a cada 18 meses, de acordo com o cronograma. Por esta época já terá sido iniciada a construção do SNBR (propulsão nuclear), com previsão de entrega entre 2022 e 2025.
A sustentabilidade
Este Programa está inserido no PAC, não sendo um programa de governo mas sim de Estado. Isto significa que as nossas autoridades estâo plenamente convencidas de sua imprescindibilidade como meio dissuasório, eis que cerca de 95% de nosso comércio transita pelo mar (para não falar nas vastas riquezas do Pré-Sal), ou seja, um bloqueio naval sufocaria nossa economia rapidamente. Há que se ter meios para evitar que isso aconteça e, se necessário, combater para proteger nossas linhas comerciais. Assim, o Programa não se encerrará com o último SBR nem com um único SNBR. A Marinha do Brasil trabalha com a expectativa de pelo menos 15 belonaves convencionais e 6 de propulsão nuclear, com o fito de poder negar o uso do mar a qualquer potencial Força Adversa.
Submarino Nuclear é Arma Nuclear?
De modo algum. É uma belonave que apenas utiliza um reator nuclear desenvolvido e produzido no Brasil (os franceses não tocarão neste ponto, restringindo-se a ajudar quanto ao casco e sistemas normais de um submarino, mesmo os controles do reator serão 100% nacionais) para gerar energia suficiente para manter sua capacidade propulsiva, sistemas de bordo operando, etc. Quem diz o contrário ou expressa ignorância no assunto ou mesmo má fé.
Alguns detalhes
1 – Aço: o aço empregado nos nossos Scorpènes (pelo menos nos 4 primeiros) será de fabricação francesa, por não haver equivalente disponível em produção por empresa nacional. Há estudos para mudar este panorama já no primeiro SNBR. Senhores empresários e acadêmicos, o convite está aí.
2 – Sonar Rebocado: nenhum dos SBRs o receberá, ao menos ao entrar em serviço. Não obstante, a Marinha do Brasil está desenvolvendo seu próprio modelo, com vistas ao SNBR. Não há maiores empecilhos para, caso se julgue necessário, este seja instalado, talvez num modelo modificado, nos submarinos convencionais. Mas não há qualquer projeto com vistas a isso. Cajo o panorama se altere, aguardem o necessário update desta matéria.
3 – Mísseis táticos lançados a partir de submarinos, sejam estes convencionais, sejam de propulsão nuclear: nas palavras do Almirante Neves, ditas pessoalmente ao autor, “é posição oficial – inclusive por escrito – do Alto Comando da Marinha do Brasil, a decisão de não projetar poder sobre terra através de submarinos, que são fundamentalmente meios de negação do uso do mar. Os únicos mísseis serão mesmo os Exocet SM-39 e futuramente o MAN-SUB, sempre em funções antinavio, com base na situação tática”.
Sobre isto uma ilação do autor: já há gente demais pelo mundo afora – e mesmo aqui no Brasil – incomodando bastante apenas pela nossa decisão de desenvolver um meio submersível de propulsão nuclear. Dar-lhe a capacidade de lançar mísseis táticos levaria esta resistência a patamares quase insuportáveis. Ainda dentro da visão do autor, o acima citado se encaixa com outro Programa, chamado PRONAE, ou seja, o PROgrama de obtenção de Navio AEródromo, este sim, um meio específico para projeção de poder. A capacidade de projetar poder sobre terra com base em submarinos poderia convencer os meios políticos de que isso basta e o PRONAE correria o risco de ser prejudicado. Ressalvamos que esta é uma ilação do autor.
4 – Propulsores (motores elétricos): é quase o mesmo caso do aço. Os do primeiro lote de Scorpènes serão de fabricação francesa, e a Marinha estuda um modelo nacional para o SNBR, que poderá ou não ser empregado, em versão original ou modificada, nos futuros lotes de SBRs.
5 – Indústria Nacional: a Marinha do Brasil tem promovido diversos encontros com empresários e acadêmicos, visando nacionalizar tudo o que for possível no que diz respeito às suas necessidades em geral e aos novos submarinos em particular. Sobre isso, aguardar futuros updates desta matéria.
Portal Defesa
UPDATE 28/11/2013 – O torpedo a ser empregado nos nossos futuros submarinos será realmente o bastante noticiado F-21 francês. Não obstante, já se encontra em estudo, a ser intensificado após a conclusão do MAN-1 (míssil antinavio), um torpedo pesado (21 pol) genuinamente nacional. Aliás, segundo informações do Alto Comando da Marinha, a área de torpedos foi a única que não previa ToTs (transferências de tecnologia) em todo o PROSUB. Sobre isto cabe acrescentar que os tubos lançadores do quarto Scorpène já serão de fabricação inteiramente nacional.