Uma tarde a bordo do USS George Washington

Publicado em: 06/12/2015

Categoria: DESTAQUES

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Um sonho de criança se tornando realidade.

Essa matéria não poderia começar com outra declaração que não fosse essa. Peço licença desde já aos leitores para fugir um pouco do padrão com que escrevemos aqui no Portal Defesa, mas farei isso apenas com o intuito de passar um pouco a vocês o que foi essa tarde, este dia.

Duas atividades programadas com muita antecedência colocaram um Porta-aviões da Marinha Norte Americana, o CVN-73 USS George Washington, na costa do Brasil no mês de novembro passado. Foram elas a 56ª UNITAS, exercício conjunto entre países do continente americano que ocorre desde 1959, e o fato do CVN-73 ter que passar pelo RCOH, ou Refueling Complex Overhaul, na Base Naval de Norfolk, na costa leste dos Estados Unidos.

Partindo de San Diego, Califórnia, o CVN-73 precisa dar a volta na América do Sul para ir de uma costa a outra do país, já que não cabe no Canal do Panamá. Uma curiosidade é que apesar da Marinha Norte Americana trocar o combustível nuclear do USS George Washington agora com cerca de 25 anos de uso, o mesmo pode durar até 50 anos. A troca nesse período se da a fim de aumentar a vida útil dos reatores do navio.

As duas operações combinaram com perfeição e terminaram por criar as condições para que eu, um entusiasta do tema “Defesa” desde que me entendo por gente e apaixonado por aviação naval, tivesse a chance de realizar um pouso enganchado e uma decolagem catapultada. Não é necessário dizer o quanto essa possibilidade tirou meu sono até o dia propriamente dito.

A UNITAS 2015 já estava programada e todos nós das chamadas Mídias Especializadas estávamos antenados, apenas aguardando que tivesse início. E por vários motivos, incluindo o fato de que o Brasil não participava deste exercício desde 2011.

Na edição deste ano, prevista para durar do dia 13 ao dia 25 de novembro, as Marinhas de 6 países participaram do exercício na costa brasileira, cada uma com meios variados seja no mar ou no ar. A Força Aérea Brasileira também participou desta edição.

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São realizadas fases de porto e fases de mar do exercício. Na fase de porto são executadas ações Cívico-Sociais e reuniões de coordenação, e já na fase de mar os exercícios abrangem vários tipos de operações, entre eles Guerra Eletrônica, combate naval, defesa antiaérea e interdição marítima.

A oportunidade de ir a bordo do USS George Washington teria de ser durante a fase de mar, exatamente para que fosse possível acompanhar as operações aéreas a bordo do CVN-73. E assim o foi.

Tudo que sabíamos é que o voo decolaria da Base Aérea do Galeão bem cedo, que enfrentaríamos cerca de 1h30m de voo e que estaríamos de volta por volta das 18h. Não sabíamos a localização do CVN-73 e muito menos o que nos esperava a bordo. O que só nos deixava cada vez mais como crianças abrindo presentes de natal.

Chegando lá assistimos a um Briefing de segurança, e fomos informados que o voo duraria não 1h30m como previsto, mas cerca de 2h. Vestimos então nossos coletes, capacetes e viseiras, e partimos para o pátio. Lá tive o primeiro encontro com a aeronave que iria me proporcionar essa experiência única na vida, o C-2A Greyhound de matrícula 22, BuNo 162140 e pertencente ao esquadrão VRC-30 Providers, pilotado pelos Lt Rick Galante “Paapas” e pelo LCDR Mark David “Perro Rabioso”, informações que nunca na vida vou esquecer.

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Rápido taxi e forte aceleração para decolagem graças à potência de sobra que essa aeronave possui.

Após duas horas de um voo super tranquilo, fomos avisados de que estávamos chegando e percebi então que era possível ver por uma das duas únicas janelas da aeronave que estávamos em descida. O mar chegando cada vez mais perto e tudo que eu conseguia pensar era em como seria a pancada, o famoso “catrapo”.

Se seria forte demais, se bateria meus joelhos no assento da frente, se seria parecido com uma montanha russa… E então a tripulação grita em coro: Landing! Landing! Landing!

Pronto, sabia que logo eu teria as respostas das minhas perguntas. E então vejo muito rápido passar pela janela a posição dos LSO (Landing Signal Officer), a empenagem de um F/A-18 e tocamos o convoo. Uma surpresa: não foi parecido com nada do que eu esperava em relação à intensidade. Sendo muito sincero aos leitores, já fiz pousos mais bruscos no Aeroporto Santos Dumont.

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Foto tirada fração de segundo antes do catrapo. O enquadramento (ou a falta dele) demonstra como foi tudo muito rápido.

Um solavanco, um estalo vindo do chão e pronto. A emoção foi a mil por hora porque estávamos de fato a bordo de um Porta-aviões nuclear em mar aberto!

Taxi rápido, livrando a zona de pouso, dobrando as asas e abrindo a rampa de acesso da aeronave. Como os assentos do C-2A são virados para trás, na medida em que a rampa se abria, ia nos dando a vista de um convoo altamente operacional, com aeronaves, vapores, pessoas de um lado para o outro e barulho, muito barulho.

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Fomos conduzidos para o interior do navio e apresentados pouco depois ao Comandante do CVN-73, Capitão Timothy Kuehhas, que nos recebeu formalmente em seu navio e logo nos preparamos para acompanhar as operações de lançamento.

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Acompanhar ao vivo e a cores as aeronaves taxiando no convoo, se alinhando com as catapultas, defletores se erguendo atrás delas e toda a movimentação de pessoal em volta preparando a decolagem não é uma emoção passível de ser descrita em um texto de tão intensa. Ao menos não para um amante da aviação, em especial a naval.

Porém algo que da para descrever é a sensação de acompanhar a decolagem em si, a pouquíssimos metros de distância. O rugido dos motores do F/A-18F impressiona, mas logo que o piloto aplica potência máxima, o chão sob nossos pés começa a vibrar de uma forma que sinceramente eu não havia previsto. Tudo treme, e isso só aumenta a expectativa de ver aquela aeronave sendo lançada do navio, e é o que acontece logo depois, e com uma facilidade incrível.

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Seguimos acompanhando as decolagens, e em seguida o pouso de helicópteros MH-60R e MH-60S.

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Ao voltarmos para dentro, conhecemos o passadiço, onde finalmente descobrimos onde o CVN-73 estava. Nós decolamos do Rio de Janeiro e voamos por duas horas, encontrando o USS George Washinton a cerca de 95km da costa, exatamente na divisa entre Santa Cataria e o Rio Grande do Sul! Ninguém ali imaginava que tínhamos ido tão longe.

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Logo depois fomos apresentados a sala onde trabalha o Handler, uma das funções mais interessantes em um Porta-aviões.

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Ali o Handler organiza com a ajuda de um responsável pelos suportes e outro pelos abastecimentos toda a movimentação no convoo e no hangar. E apesar de estarmos falando de um caríssimo Porta-aviões nuclear com aeronaves e armas modernas de altíssimo valor, toda essa organização é feita utilizando peças adaptadas como porcas, arruelas e até moedas de 1 cent.

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Isso mesmo. Os equipamentos, armamentos e aeronaves que transitam por um convoo de um Porta-aviões nuclear americano, não só no caso do USS George Washington, são organizados de forma extremamente simples, propositalmente adaptada e eficiente, que atende muito bem a função há décadas. E pra que mexer em time que está ganhando?

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A representação do Hangar fica logo abaixo do convoo.

Foi-nos contado que já pensaram algumas vezes em modernizar o processo, trocando a mesa e os “acessórios” adaptados por computadores. Mas que até então isso não foi feito, e segundo o Handler que nos apresentou sua função, isso não vai acontecer tão cedo. Afinal, se uma peça for perdida, é sempre possível conseguir uma moeda de 1 cent perdida em algum bolso, ou uma porca com os mecânicos. Já se um computador falhar…

Fomos apresentados em seguida a Contra-almirante Lisa Franchetti, uma pessoa que impressiona pelo contraste entre a aparência simples e o poder que tem sob sua responsabilidade. Digna de uma admiração enorme pelo cargo que ocupa.

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Ela é a Comandante do Carrier Strike Group Nine, ou seja, ela é a responsável pelo USS George Washington, pelos Destroyers USS Chafee e USS McFaul, pelo Navio de Apoio Logístico USNS Big Horn e por todas as aeronaves e pessoal a bordo desses navios.

Após uma breve conversa, chegou a hora de assistir a recuperação, ou pousos, das aeronaves que vimos decolar momentos antes.

Voltamos ao convoo e logo vimos que não seriam apenas pousos, mas tinham 3 jatos F/A-18 tanto da variante F quanto da C enfileirados para decolagem, para a alegria de todos.

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Mais rugidos, mais chão tremendo, mas vapor, mais emoção.

Então vamos aos pousos. Rapidamente os cabos são esticados no convoo e a primeira aeronave aparece fazendo a perna base, alinhando e vindo em uma aproximação extremamente estável. Uma cena linda.

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Os LSO na borda do convoo de olho, todos com a cabeça acompanhando a aeronave enquanto passa por eles, o gancho encosta no convoo e logo se prende a um cabo. Aeronave no chão e parada em um instante.

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Tão rápido quanto ela para, ela levanta o gancho de parada e manobra para livrar a zona de pouso. Toda essa rapidez se da porque a próxima aeronave já está na perna base, prestes a se alinhar também.

Em determinado momento, um F/A-18C do VFA-34, os Blue Blasters, já na final para pouso decide arremeter, e faz com isso uma passagem baixa sobre nossas cabeças em um momento de tirar o fôlego. Aguenta coração!

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Aeronaves recuperadas, nos dirigimos para o hangar, local onde as aeronaves são guardadas e manutenidas constantemente. Lá podemos ver mais de perto as aeronaves e ter a noção de que toda aquela vida agitada que existe no convoo, existe também embaixo dele. São pessoas e equipamentos para todo lado, cuidando para que tudo esteja funcionando perfeitamente.

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Como tudo chega ao fim, após a visita ao hangar é chegada a hora de voltarmos para o Rio de Janeiro, e deixar para trás esse mundo flutuante que encanta a cada segundo não importa para onde se olha.

Mas a despedida significa um sentimento dúbio no coração de cada um ali. É a tristeza de ir embora, mas também a emoção da tão esperada decolagem catapultada!

Durante toda a tarde não foram raras as vezes em que alguém comentava conosco que iríamos adorar a decolagem, então é possível imaginar a expectativa geral.

Preparamos-nos, colete, capacete, viseira, e voltamos para nosso querido C-2A, e… bem, a partir daí eu prefiro que a história seja contada em vídeo, se me permitem:

Gostaria de convidar vocês para que conferissem cada uma das fotos abaixo, para que eu possa tentar compartilhar com todos a experiência que vivi.

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Não posso deixar de agradecer ao CCSM, em especial ao CF Chaves por nos convidar e a Ten. Alenuska por toda a imensurável atenção. Ao Consulado dos Estados Unidos por todo o apoio e a US Navy por permitir que essa experiência até então beirando o impossível de ser realizada, se tornasse uma emoção e uma lembrança que irei carregar por toda a vida.

Muito obrigado a todos.

Portal Defesa

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2 Responses to Uma tarde a bordo do USS George Washington

  1. Gilson disse:

    Show de bola, parabéns ao Portal Defesa

  2. lucaslasota disse:

    Matéria excelente, muito obrigado!

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